segunda-feira, 30 de novembro de 2009

CARTOLA e o FLUMINENSE

Nesta data de 30 de novembro, podemos relembrar em nossas memórias tricolores, outro dia 30 de novembro. O de 1980. Nesta data, os torcedores do Fluminense Football Club viveriam situações de fortes emoções. Um triste e uma feliz. Começo pela triste.

No dia 30 de novembro de 1980, a música popular brasileira perderia um de seus maiores compositores. E o samba, em especial, o seu maior nome: Cartola. Agenor de Oliveira nasceu em 1908, na Rua Ferreira Viana, no bairro carioca do Catete. Aos onze anos, já morando na Rua das Laranjeiras, n° 285, o menino Agenor de Oliveira gostava de espiar os treinos do fabuloso Fluminense Football Club de Marcos Carneiro de Mendonça, Vidal, Chico Neto, Machado, Mano, Zezé, Welfare e Cia.

Na ocasião, o menino Agenor começava a ser tricolor. Jogava umas peladas num terreno baldio perto do clube e assistia ao início da construção do Estádio das Laranjeiras, com as carretas trazendo terra para as obras e trabalhando o dia inteiro. Nesta mesma época, o menino Agenor mudou-se para o morro da Mangueira. Contudo, a semente tricolor ficara plantada na sua alma e desde então jamais deixou de torcer pelo Fluminense. Alguns anos depois, o menino Agenor de Oliveira, o “Cartola”, fundaria a Estação Primeira de Mangueira.

No final de 1969, a presidente Francisco Laport reuniu toda a diretoria do Fluminense para homenagear Cartola com um almoço. Dentre os presentes estavam João Boueri, Preguinho, Silvio Vasconcellos, Ari Duboc e Paulo Coelho Netto. Visitaram todas as dependências do clube. O autor de “Divina Dama” e “Tempos Idos” parou entusiasmado diante da Taça Olímpica e emocionou-se quando Preguinho contou-lhe que apenas poucos clubes no mundo possuem o troféu. Ao final de sua visita ao Fluminense, ainda na porta da sede, o presidente Francisco Laport disse ao ilustre visitante que voltasse quando quisesse e que bastava dizer ao porteiro: “eu sou o Cartola”. Francisco Laport ainda disse para Cartola: “O Fluminense que é seu o receberá de braços abertos”.

Logo após a contratação do craque Rivelino, o presidente Francisco Horta para incrementar a estréia do grande craque, que seria no sábado de carnaval de 1975 contra seu ex-clube, o Corinthians, resolveu solicitar ajuda a ajuda do mestre Cartola. Foi aí que Horta subiu o morro da Mangueira, o Palácio do Samba, e ao entrar na casa de Cartola e avistá-lo, disse: - Saudações Tricolores! E prontamente, Cartola respondia: - Saudações Tricolores. Francisco Horta precisava do auxílio de Cartola para um plano audacioso: o lançamento da Torcida Manga-Flu, com um desfile da Mangueira. Cartola aprovou a idéia e imediatamente convocou mestre Valdomiro, da bateria, que assegurou a Horta a participação de seus 120 ritmistas.

O desfile da Manga-Flu foi um sucesso. Mais de 70 mil tricolores foram assistir a estréia de Rivelino com milhares de bandeiras e fizeram uma grande festa. Fim de jogo, Fluminense 4 a 1 no Corinthians, com três gols de Rivelino. Francisco Horta, Rivelino e o Fluminense jamais esqueceriam a colaboração do mestre Cartola.

Em 1976, a Máquina do Dr° Horta atingia o seu apogeu junto com Cartola. Após o sucesso de seu primeiro disco, Cartola gravaria neste ano o seu segundo disco. Desta vez, trazia o grande sucesso “As rosas não falam”. Cartola, um verdadeiro “lorde”, se consagrou definitivamente e finalmente chegava no coração do povo brasileiro.

Neste período Cartola fez bastante televisão, ganhou prêmios e gravou discos. Até o dia 30 de novembro de 1980, quando o câncer lhe tirou a vida, aos 72 anos. E no funeral do sambista, na quadra da Mangueira, foi colocada uma bandeira do Fluminense em cima do caixão, que só seria retirada quando o caixão baixou à sepultura. O humaníssimo Cartola, como o Fluminense, virou imortal!

Porém, neste mesmo dia 30 de novembro de 1980, os tricolores viveriam uma felicidade ímpar. Após o bicampeonato da Máquina, o Fluminense voltava a decidir o campeonato carioca. Novamente, o adversário a ser batido seria o Clube de Regatas Vasco da Gama. O Fluminense adquirira o direito da disputa, por ter vencido o próprio Vasco no primeiro turno, numa vitória nos pênaltis por 4 a 1. E o Vasco vencera o segundo turno.

A equipe tricolor começou o campeonato com a torcida ressabiada. Nos anos anteriores, eram comuns os protestos da torcida contra diante da suntuosa sede de Álvaro Chaves, ameaçando um dos orgulhos tricolores, os vitrais franceses. Mas durante o campeonato a equipe dirigida por Nelsinho, apresentando um futebol alegre e de bom nível, foi conquistando a confiança dos tricolores.

Na partida finalíssima, o Fluminense foi a campo absolutamente convicto da vitória. Como quase todo jogo de decisão, a partida não foi lá essas coisas. Apenas no segundo tempo, Nelsinho mandou sua equipe com a exibição da verdadeira face: a do ataque. Já Paulo Goulart, entrou e saiu com seu uniforme intocado e imaculado.

Aos 22 minutos do segundo tempo, convocado a cobrar uma falta na altura do bico esquerdo da área vascaína, Edinho o fez com violência, pegando com a face interna do pé direito. A bola ultrapassou a insuficiente barreira, quicou a um metro de Mazzaropi e, traindo-lhe o reflexo, resvalou violentamente em seu braço, foi ter à trave direita e entrou, configurando o gol que daria o título carioca de 1980 ao Fluminense. Edinho encarnava o espírito vencedor tricolor. Era a vitória do futebol ofensivo tricolor destruindo a retranca ultrapassada do técnico Zagallo.

Ao final da partida, o delírio tricolor era total. A música mais entoada naquele dia era a do papa: “A Benção João de Deus...” Paulo Goulart, Edevaldo, Tadeu, Edinho Rubens Gálaxe, Deley, Gilberto, Mário, Mário Jorge (Robertinho estava contundido), Cláudio Adão e Zezé, confraternizavam-se no gramado durante a volta olímpica e agitavam a torcida tricolor que lotara a sua parte das arquibancadas do Maracanã. Muitos ilustres tricolores, como Telê Santana, Carlos Alberto Torres e Chico Buarque de Holanda, dentre outros, exultavam de alegria nas tribunas.

É importante que os sócios e torcedores do Fluminense cultuem e conheçam um pouco mais sobre a nossa história. Uma história construída por empreendedores, desportistas idealistas e apaixonados por este clube. A história de 107 anos do Fluminense deve ser adequada à contemporaneidade, sem que seja preciso importar modelos da moda. No momento em que todos no clube se imbuírem do espírito vencedor tricolor, elevando o nível dos debates, sabendo separar o joio do trigo, voltaremos a ser o modelo de clube padrão em nosso país.

E como “o mundo é um moinho”, parafraseio o imortal tricolor Nelson Rodrigues: “Se quereis saber o futuro do Fluminense, olhais para o seu passado. A história tricolor traduz a predestinação para a glória”.


RECORDAR É VIVER:

CARTOLA:


http://www.youtube.com/watch?v=te2HfDsXcXs


FLU 1980:

http://www.youtube.com/watch?v=7cU3M7Amj8A



Saudações Tricolores

Um comentário:

  1. Eduardo,

    Parabéns, como sempre!

    Ótimo saber que a memória do Fluminesne está em boas mãos.

    Só gostaria de acrescentar mais "lenha" nesse fogo (ano de 1980).

    Essa final contra o Vasco, com o golaço do Edinho, originou a última crônica do genial Nelson Rodrigues... proibido pelos médicos de assistir ao jogo, ditou sua última crônica ao filho (Nelson Rodrigues Filho).

    Saudações!

    Marcelus Amorim

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