domingo, 9 de maio de 2010

Deu um tiro no pé

Certa vez, me deparei em uma escola com um garoto muito chato, mimado e vaidoso. Era o Juquinha. Juquinha tinha 12 anos. Só jogava no time do colégio, pois era o dono da bola. Juquinha era muito melindroso, dramático e chorão. E Juquinha adorava contar vantagens “se achando” mais importante do que os outros garotos da escola. Como era o dono da bola, de vez em quando seus coleguinhas diziam que “o Juquinha batia um bolão”.

Mas, numa determinada ocasião me fez uma pergunta muito interessante. Juquinha tinha ouvido falar a respeito da expressão, “DEU UM TIRO NO PÉ” e não sabia o que significava. Tinha sido o tio dele, Roberval Sucupira, um verdadeiro troglodita envolvido em muitas falcatruas e que vivia cercado por capangas, que lhe falou sobre a expressão “DEU UM TIRO NO PÉ”.


Foi aí, que pela primeira vez, percebi que Juquinha poderia se transformar em alguma coisa na vida. Desde que se tornasse mais humilde e aprendesse a ouvir aqueles que tinham a missão de ensiná-lo. Contudo, me animei em acabar com suas dúvidas e expliquei-lhe sobre a expressão “DEU UM TIRO NO PÉ”.


Na madrugada do dia 5 de agosto de 1954, na Rua Tonelero, no bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro, ocorreu um crime. Foi o chamado “Crime da Rua Tonelero”. Na realidade, o tal crime, foi um atentado contra o jornalista e político CARLOS LACERDA ferrenho opositor do presidente GETÚLIO VARGAS. Carlos Lacerda destruía Getúlio Vargas através das páginas de seu jornal, a “TRIBUNA DA IMPRENSA”.


Naquela madrugada, Lacerda chegou de automóvel à sua residência que ficava na Rua Tonelero. Lacerda estava acompanhado de seu filho Sérgio e do Major da Aeronáutica, Rubens Florentino Vaz, quando dois homens armaram uma emboscada e dispararam tiros contra ele e fugiram de táxi. Lacerda foi atingido de raspão no pé e o Major Rubens Vaz fora atingido por duas balas no peito e uma nas costas. O Major Rubens Vaz morreu a caminho do hospital.


No dia seguinte, Lacerda publicou em seu editorial na Tribuna da Imprensa: “Perante Deus, acuso um só homem como responsável por esse crime. É o protetor de ladrões, cuja impunidade lhes dá audácia para atos como os desta noite. Este homem chama-se Getúlio Vargas”.


Durante a investigação, em poucos dias chegava-se a dois suspeitos: Alcino João Nascimento e Climério Euribes de Almeida, homens da guarda pessoal do presidente Getúlio Vargas, e ao mandante do crime, GREGÓRIO FORTUNATO, chefe da guarda e guarda-costas de Getúlio.

Para a oposição, Gregório Fortunato era um “puxa saco” e simbolizava a imensidão de ‘lambe botas’, lacaios e corruptos que cercavam o presidente Getúlio Vargas. Tornou-se famosa a foto em que Gregório penteava e alisava o cabelo de Getúlio Vargas. Muitos assessores medíocres, ridículos e sem nenhuma qualificação específica para os cargos que exerciam rodeavam Gregório na espera de arrumarem uma ‘boquinha’. E com isso, Gregório Fortunato um semi-analfabeto era um dos homens mais poderosos da república. Entre os muitos opositores de Getúlio, seu governo tinha se transformado num “mar de lama”.


A crise política que se seguiu após o atentado, foi agravada pelos violentos ataques de Lacerda. Carlos Lacerda era muito admirado por sua brilhante oratória e seus artigos incisivos, verdadeiras bombas contra Getúlio. Isto aumentou a ‘onda antigetulista’. No dia 23 de agosto de 1954, o presidente Getúlio Vargas fez uma reunião ministerial, com a finalidade de analisar o quadro político. Ficou definido que Getúlio entraria de licença até terminarem as investigações. Duas horas mais tarde, quase às cinco horas da manhã do dia 24, Benjamin Vargas, irmão de Getúlio, chegava ao Palácio do Catete com a informação de que os militares queriam sua renúncia de qualquer maneira.


Com isso, Getúlio retirou-se para o seu quarto e momentos depois se ouviu um tiro. Só que este, não foi “UM TIRO NO PÉ”. Getúlio Vargas suicidou-se com um tiro no coração.


Depois Alcino foi condenado a 33 anos de prisão, pena depois reduzida. Cumpriu 23 anos e sobreviveu a duas tentativas de assassinato. Gregório Fortunato foi condenado a 25 anos, vindo a ser assassinado dentro da prisão (Penitenciária Lemos de Brito), assim como Climério.


Portanto, “UM TIRO NO PÉ” pode ter seus múltiplos desdobramentos. Quais??? Nunca se sabe! Por isso, é sempre bom evitar “UM TIRO NO PÉ”.


Saudações Tricolores

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