sábado, 28 de dezembro de 2013

ESCALADO PAULO CÉZAR

PASQUIM, nº 458, de 7 a 13/04/1978



Em 1975, Francisco Horta trouxe Paulo Cézar Lima, o Caju, para o Fluminense. Junto com Rivelino, o PC seria o grande maestro do time que ficou eternizado como "A Máquina Tricolor". A torcida tricolor eufórica cantava nos estádios: "É covardia, é covardia, é Paulo Cézar, Rivelino e companhia..." 

Neste ano de 2013, tive o grande prazer de estar algumas vezes junto com o Caju. Numa delas tivemos altos papos sobre futebol. Que honra! E nesta ocasião disse ao PC que lhe faria uma homenagem publicando no Blog CIDADÃO FLUMINENSE uma entrevista sua no PASQUIM. É uma forma de agradecimento e carinho por tudo que Paulo Cézar Lima construiu em sua carreira no futebol. E em especial no Fluminense. É um presente também aos leitores e leitoras do Blog

Em 1978, Paulo Cézar foi convidado para integrar o time de cronistas do PASQUIM. Criado em 1969, o PASQUIM teve enorme importância na oposição ao regime militar. Em meados dos anos 1970, tornou-se um dos maiores fenômenos do mercado editorial brasileiro, atingindo a marca de 200 mil exemplares. O PASQUIM foi um grande porta-voz da sociedade brasileira e suas indignações. E com muito humor, é claro, pois ninguém é de ferro. 

No exemplar nº 458, do PASQUIM, de 7 a 13/04/1978, saiu uma grande entrevista com o PC. Neste mesmo exemplar saía a sua primeira crônica. Paulo Cézar sempre foi um homem inteligente, autêntico e de posicionamento. E num país onde existem muitos hipócritas, quem é autêntico geralmente é chamado de polêmico. 

Na entrevista Paulo Cézar fala de tudo. Futebol. Seleção Brasileira. Comportamento. Política. Maconha. Homossexualismo. Mulheres. E muito mais. É um verdadeiro documento histórico. Passados 35 anos da realização da entrevista, é preciso que se faça uma contextualização histórica do momento em que vivíamos. Era o período que antecedia a Copa do Mundo da Argentina. O Brasil vivia sob o regime militar e era governado pelo General Ernesto Geisel. O AI-5 ainda vigorava, mas naquele mesmo ano de 78, seria extinto. Em alguns aspectos da entrevista percebemos Paulo Cézar com colocações visionárias. Vale conferir:





A entrevista foi no apartamento que Paulo César alugou na rua José Linhares, no Leblon. Um apê de executivo, vasto salão, grupos estofados, tapetes, movéis coloniais, candelabros barrocos, 5 grandes quadros a óleo do mesmo pintor (M. Yehya), todos com temas árabes. "Não tenho nada a ver com essa decoração, já aluguei mobiliado", explicou o jogador. "Vim para cá depois que levei o golpe do baú e minha mulher tomou meu apartamento".

Chegamos na hora marcada - Chico Jr., Jeferson Ribeiro de Andrade, eu e mais dois representantes da galera, Beto e Toninho, do Departamento de Montagem do PASQUIM e do nosso time de futebol de salão. 

Fomos recebidos por uma moça bonita e por PC, o collie de Paulo César inquieto como o dono. A moça bonita disse que o atleta tinha ido ao médico e ia demorar. Uma hora depois chegou o entrevistado, de bermuda e com um inchaço do tamanho de uma laranja no pé. "Machuquei no treino em Marechal Hermes", explicou de mau humor. Quem pagou o pato foi um cara que telefonou pedindo umas fotos e levou a maior bronca.

A entrevista era interrompida a todo momento por telefonemas atendidos pela moça bonita. Se era de mulher, PC convidava para passar o fim de semana em Búzios (foram pelo menos uns cinco). E ainda dizem que as más línguas que o crioulo joga água fora da bacia. - (Jaguar)


Chico Jr. - Sabe que a torcida do PASQUIM andou te vaiando aí porque marcou uma entrevista com a gente e furou, né? A gente até preparou uma página de cacete caso você furasse novamente. 

PAULO CÉSAR LIMA - Pô, ao invés de dar paulada na CBD vão dar em mim? Se eu não curtisse o PASQUIM não daria entrevista pra vocês. As pessoas que não curto nem cumprimento. 

Jaguar - Você é um cara meio brusco, né?

PC - Nunca tive medo de crítica. Agrado as pessoas que me agradam e trato bem quem me trata bem.   





A enfática resposta demonstra a personalidade de PC 




Chico - Se Zagalo fosse o técnico você seria convocado?

PC - A convocação não depende do treinador, mas da bola. Se tenho bola, se tenho talento, tenho que ser convocado. 

Beto - Pra ponta-esquerda?

PC - Olha, se eu fosse convocado seria pra Seleção Brasileira, na ponta-esquerda, na ponta-direita, qualquer coisa. O importante é jogar bem. 

Chico - Você tem esperança de ser convocado?

PC - Não posso ter porque não sei qual é o motivo pelo qual tô de fora. Se eu tiver mal poderia entender, mas agora tô numa fase maravilhosa, e durante o Campeonato Nacional Coutinho disse que convocaria quem estivesse bem, mas ao usar esse critério não me convocou. Pô, se tenho talento tenho que estar dentro da Seleção Brasileira. Sempre estive, desde 1968, quando tinha 18 anos. 

Toninho - Então quem te cortou não foi o Coutinho?

PC - Não. 

Toninho - Foi o Heleno? 

PC - (ri) Não sei, ninguém sabe. (a entrevista é interrompida por um telefonema estranho. A moça anota o recado, chama Paulo César e conversa com ele. Logo depois ele volta e senta. Suspense)

PC - Ligaram do clube pedindo umas fotos 5 x 7.

Chico - Peraí, que transa é essa?

PC - A CBD ligou para o Botafogo pedindo que até amanhã eu tirasse seis fotografias 5 x 7 pra serem mandadas pra Fifa.

Beto - Pediram a mesma coisa pro Nelinho, Marcelo e Raul. 

PC - A crítica dizia que eu estava bem, o Botafogo então estava muito bem, e na terça-feira Nei Bianchi da Manchete me ligou: "Coutinho tá aqui na Manchete almoçando com a gente e você tá convocado." "Não precipita as coisas. E se na hora eu não for?" "Não, ele deixou gravado aqui que você tá convocado." Quarta-feira jogamos contra o Fast e acabei com o jogo. À tarde o pessoal da Manchete havia ido ao Maracanã combinar de sexta-feira ao meio-dia me pegar pra fazer a capa comigo, Zico e Rivelino, mas quando chegaram eu tava vindo do treino e pedi pra dar um tempo. Ligamos a televisão e foi quando deu o Romeu. Os caras aqui quase caíram duros. Ligaram correndo pra Manchete: "Não é possível!" Ninguém entendeu nada. Honestamente, não sei te dizer qual é, se é o Almirante não quer, se é o Cavalheiro que não quer... Sei é que tem uma parte da Comissão Técnica que não me curte. No ano passado, quando chegamos na Colômbia, nos entregaram um regulamento de quase 40 itens proibindo barba, cabelo grande, telefonemas, visitas, uma porção de coisas. 

Jaguar - Parece colégio militar.

PC - No domingo era o jogo com o Peru e depois com a Bolívia. O time já estava escalado. Aí o Richer fez uma preleção dizendo que a CBD não aceitaria reivindicação de ninguém: pagaria mil dólares pelas duas partidas e só. Suas palavras foram: "Quem não estiver satisfeito pode ir embora que a CBD paga a passagem". Então me levantei e disse que não estava satisfeito porque mil dólares era o que eu ganhava em 1969, nas eliminatórias, quando João Saldanha ainda era treinador, Mas a questão não era essa e sim que não me haviam dado nenhuma condição de diálogo. Entre os 22 jogadores fui o único que chiei. Reclamei, discuti com ele, a reunião quase acabou, e fiquei mal-visto pela Comissão Técnica. Quando veio a convocação fiquei de fora. Mas o Claudio Mello e Souza escreveu no Globo que um membro Comissão Técnica falou que não fui convocado porque não aceitaria ser reserva do Dirceu. Não aceito mesmo. Respeito o Dirceu, mas tenho mais bola do que ele. Só que dentro da Seleção Brasileira tô querendo colaborar e aceitaria isso. Não fui convocado porque criaria uma imagem negativa dentro do plantel dos jogadores. O meu rótulo é de "desagregador de grupos". 

Jaguar - As razões para sua não-convocação então foram extra-futebol? 

PC - Por isso é que a grita foi geral. Se eu tivesse jogando mal ninguém ia reclamar.         





A expressão do craque Paulo Cézar 




Jaguar - Esse regulamento sinistro já existe há muito tempo, né?

PC - Em julho eu já reclamava disso.

Chico - Se você fosse pra Seleção agora cortaria a barba?

PC - Não. Jogo futebol com os pés e não com a barba. Negócio de aparência não tem nada a ver. No Botafogo jogo muito bem de barba e nunca me mandaram cortar. 

Jaguar - Se Marinho fosse convocado teria que fazer um corte príncipe-danilo? 

PC - O pior é que não dizem isso abertamente. Falaram que queriam convocar dois pontas recuados. Pô, faço isso há dez anos: em 1968, no Botafogo, jogava recuando e atacando, mas dizem que hoje sou ponta ofensivo, e que Dirceu e Romeu são pontas recuados. 

Beto - Mas não disseram que não iam convocar dois jogadores do mesmo estilo para a mesma posição?

PC - Quando houve aquela pressão imprensa-povo depois do empate contra a Colômbia, e sacaram o Brandão, Coutinho me convocou. Agora me deixou no ar. Não entendi. Me convocou pra ficar bem por que estava havendo pressão. 

Chico - Por que a maioria da imprensa não gosta de de você e vive te malhando?

PC - Mas agora, por causa desse critério usado pela Comissão Técnica, ficaram do meu lado. Fiquei de fora e houve a grita. (ri) No Botafogo x Cruzeiro fui aplaudido pela primeira vez. Nunca fui aplaudido em Belo Horizonte. 

Chico - Como você vê a Seleção?

PC - O Brasil tem condições de armar um time e chegar bem na Copa do Mundo. Tem tempo pra treinar e se preparar. Tem Zico, Reinaldo, Rivelino, Toninho Cerezo e tem os jogadores que ficaram de fora como Nelinho, Marinho, Falcão e Luiz Pereira. Agora, com dois a três meses pra improvisar Edinho de lateral-esquerdo porque não podem recuperar o Marinho... e se dizem que Nelinho não foi convocado porque tá com problemas de joelho... Um cara que jogou o Campeonato Brasileiro todo! Um cara que chuta uma bola da intermediária e é meio gol! Não querem usar as armas que o Brasil tem. 

Chico - O técnico da Seleção Brasileira é um dos que menos apitam na hora da convocação? 

PC - Sim, formaram uma Comissão Técnica onde todo mundo opina.

Jaguar - Inventaram o técnico indireto, biônico.

Chico - O Heleno também entra nessa brincadeira, né.

Jaguar - Como essa Comissão Técnica é toda formada por militares o critério que adotam é o da disciplina, enquanto você tem fama de indisciplinado. 

PC - É, não posso participar de grupos porque sou um "desagregador". 

Jaguar - Você é um contestador?

PC - Não, sou uma pessoa que reivindica meus direitos. 

Jaguar - Jogador não é só pra jogar? Como estudante é só pra estudar? 

PC - Não, se acho que Coutinho ou Richer tá errado tenho direito de fazer minhas críticas. 

Jaguar - Por esse critério Gérson também seria barrado. 

PC - Mas naquela época a CBD era dirigida por João Havelange, e as pessoas podiam falar. Mesmo assim Gérson teve alguns problemas. 

Jeferson Ribeiro de Andrade - Reinaldo de repente ficou sem condições de jogo. o médico da Seleção foi obrigado a telefonar pro Atlético pra ver se o enquadrava em algum problema físico. 

PC - O Departamento Médico não tem culpa de nada. Reinaldo terminou o Campeonato Brasileiro em boa forma e só não jogou porque foi expulso. Viajou com o Atlético pra jogar em Londrina, mas foi suspenso. Uma semana depois veio pra Seleção Brasileira. Dizer que os treinamentos é que foram muito puxados é uma justificativa que não tem nada a ver. Não se perde a forma numa semana. 




O artista e seu instrumento de trabalho




Jeferson - A Seleção Brasileira está viajando pra Europa com a seguinte sentença: não pode perder. Isso não é um pêndulo da morte em cima dos jogadores?

PC - O teste é válido porque na Copa do Mundo vamos jogar time como a França, Alemanha, Inglaterra e Hungria. A Copa também vai ser disputada no inverno. Julho na Argentina é um frio incrível, campo pesado...

Jaguar - Eu soube que você anda estudando francês outra vez. Ficou chateado e quer voltar pra França? 

PC - Sei que dificilmente voltarei a joga na Seleção Brasileira. Depois da Copa do Mundo os times europeus poderão contratar jogadores estrangeiros e acho que tenho possibilidades de voltar. 

Beto - Pro Marselha.

PC - Quero ir pra Europa, sabe, pode ser França, Alemanha, Itália. A União Européia vai permitir que cada clube contrate mais dois jogadores estrangeiros. Ano passado, quando eu estava no Fluminense, recebi uma proposta pra jogar no Paris Saint-Germain. O presidente é desse clube é muito meu amigo.

Chcio - Sabe que ele quase foi preso?

PC - Foi um problema político: Chirac, o governador de Paris, derrubou ele da presidência do clube. Eu já estava com documentos assinados e tudo quando pintou o Troca-Troca do Horta e o Botafogo me deu uma grana muito boa. 

Jaguar - Outros já dizem que você tá curtindo é uma casa em Búzios.

PC - Em Manguinhos. Começo a construir em maio. Mas tenho que pensar em termos profissionais. Agora se tivesse possibilidades de jogar na Seleção Brasileira, preferia ficar aqui. 

Jaguar - Você cogitaria ir pro Cosmos ou aquilo não é futebol, é circo?

PC - Se pintasse uma proposta dos Estados Unidos eu iria.

Chico - Não é fim de carreira?

PC - Não, vou lá e jogo três anos, ganho uma grana, e fico estabilizado. Tenho que pensar nisso também. Beckenbauer não era capitão do time da Alemanha, titular absoluto, e jogou tudo pro alto? Deram um milhão de dólares na suas mão. Com 16 bi você nunca mais precisa de trabalhar. Não é? 

Jeferson - Os jogadores sempre dizem que no próximo contrato vão se estabilizar. 

PC - Mas aí é diferente. Uma proposta pra mim ir pro Cosmos deve girar em torno de 700 ou 800 mil dólares, coisa que não acontece no futebol brasileiro, onde você pega 15% em relação ao preço do passe. Agora mesmo o Flamengo pediu três bi pelo passe do Toninho, mas pra ele são Cr$ 450 milhões antigos. Dá pra comprar o quê? Um quarto e sala.

Toninho - Quanto você levou na troca com o Fluminense?

PC - Um bi.

Toninho - Qual foi a transação daquela troca?

PC - Não sei.

Toninho - Dizem que você, Gil, e Rodrigues Neto eram considerados muito indisciplinados para o Fluminense.

PC - Não acho que tenha sido isso. O Presidente Horta queria o Marinho de qualquer maneira. Mas com isso desarmou um timaço, que tinha cartaz inclusive na Europa. O Fluminense ganhou o Torneio de Paris duas vezes, ganhou o Torneio da Espanha, foi campeão carioca duas vezes, foi duas vezes pra semifinal do Campeonato Brasileiro, era um timaço. Foi desarmado e ficou na repescagem. 

Jaguar - Você diz que que voltar pra Europa, mas não se sentiu desambientado lá? 

PC - Não, fui muito bem tratado, gostam muito de brasileiros, te respeitam muito. Uma coisa que achei maravilhosa é que depois dos jogos nenhum atleta vai embora. As esposas dos jogadores e dos diretores também ficam no clube e depois que os jogadores tomam banho dão um jantar. Coisa bem família mesmo. Todo mundo bate papo e ali formam um grupo. Não se ouve ninguém te ofendendo ou comentando coisas desagradáveis sobre o jogo. Aqui quando você sai do estádio só escuta ofensas. O torcedor dos times adversários sempre quer te agredir, jogar pedras, e quando você tem uma má atuação até os torcedores do seu próprio time fazem isso.        







Vamo fazê um acordo entre cavalheiros? A gente põe o Paulo César na Seleção e vocês não ficam mais aí pedindo liberdades democráticas, anistia ampla, sindicatos livres, fim do arrocho salarial e eleições diretas...




Jaguar - Aqui no Rio te aporrinham muito? 

PC - Aqui não, mas quando saio do Maracanã às vezes é fogo.

Jaguar - A torcida diz que você só joga futebol quando quer. 

PC - Graças a Deus ainda tenho esse poder de jogar quando eu quero. (ri) Muita gente quando quer jogar não consegue. Na época que meu pai era treinador do Botafogo, eu era guri, e ia ver o Didi treinar. Pelos treinos não podia ser escalado em time nenhum, mas no dia do jogo ele botava pra quebrar. Dizia: "treino é treino, jogo é jogo". 

Chico - Você não afinou na Seleção pra não se queimar e perder o contrato com a França?

PC - Não. Estão querendo criar no futebol brasileiro jogadores polivalentes, mudando as características de criatividade e habilidade natas com as quais o Brasil ganhou três copas, chegou numa semi-final e foi vice-campeão. Estão querendo que nós jogadores brasileiros. façamos como os europeus que não tem a nossa técnica e compensam com a forma física e o jogo viril. Mas eu não sei jogar duro nem dar ponta-pé em ninguém. Não sei fazer o que o Neca fez com o Ângelo. Se isso é polivalência prefiro continuar com meus estilo de jogo, que acho que traz resultados. Os jogadores que estão se sobressaindo no futebol brasileiro são os que tem mais força física, enquanto os que tem mais talento encontram dificuldades pra jogar. Acho que você deve se preparar bem fisicamente, mas não mudar uma coisa nata. 

Chico - E o jogador brasileiro não tem a mínima condição de acompanhar a correria dos holandeses ou dos alemães. 

PC - Enquanto o brasileiro consegue matar a bola no peito e driblar dois ou três jogadores os europeus são preparados mecanicamente. Por que o Brasil, quando tinha Rivelino, Garrincha, Gerson, Jair, Pelé, Tostão, ganhava as Copas? Porque dificilmente vê um jogador europeu dar um passe de 30 ou 40 metros ou bater com facilidade de fora da área. Essas coisas são nossas, mas certos treinadores brasileiros acham que você tem é que dar duro, brigar, ir pro pau. 

Chico - Tá correndo um papo aí que Coutinho vai lá pra fora, vai se machucar, a Seleção perder pra todo mundo. Aí tiram o Coutinho e botam o Zagalo. Pode acontecer o mesmo que houve com o Saldanha, que só foi técnico nas eliminatórias de 69? 

PC - Saldanha não saiu porque perdeu e sim por problemas políticos. Eu estive lá e Saldanha tava muito bem. Em relação a Coutinho... (interrupção para outro telefonema, combinando um programa em Búzios na Semana Santa)

Beto - Esse apartamento é seu?

PC - Não, é alugado. 

Chico - Quanto você paga? 

PC - Vinte. Três quartos, sendo que um foi transformado numa sala de estar. Empreguei todo o dinheiro que ganhei em imóveis. 

Jaguar - Lembra quando você posou elegantérrimo pro PASQUIM como "O Craque da Bolsa"? Você conseguiu pular fora daquilo antes do Crack da Bolsa propriamente dito?

PC - Tirei o dinheiro uma no depois de investido e não perdi muito. Hoje tenho imóveis, lojas e terrenos. 

Jaguar - E um Bugacci. 

PC - Não, vendi e agora tenho um Passat. Eu queria esclarecer a respeito do meu casamento. Como minha mulher não queria morar na Europa voltei pra jogar no Fluminense. Dois meses depois tava separado. Tomei um ferro de quatro bi porque era casado em comunhão de bens. Estava sendo assessorado pelo Horta e o advogado do Fluminense e perdi o prazo da anulação, indo pro litigioso, o que interessava pra ela que era dura e não tinha nada. Eu tinha os bens. Briga daqui, briga dali, e consegui esse acordo onde morri em quatro bi. 

Jaguar - Nem o Onassis gastou tanto dinheiro em tão pouco tempo com uma mulher!

Chico - Casa comigo, Paulo César! 

PC - Admito tudo menos má fé. Essa pessoa casou comigo pra me dar o golpe do baú. Morri num cobertura no Leblon, numa loja também no Leblon. e mais Cr$ 900 mil em grana viva. Na época que eu me separei surgiram vários boatos de que eu era pilantra, moleque, mas quem tomou o golpe do baú fui eu. 

Chico - Melhor ainda: vou casar com ela! 





O humor do PASQUIM





Jaguar - Qual era a alegação?

PC - Não houve. Tivemos uma briga e uma separação de 10 ou 12 dias quando ela entrou com uma Ação de Alimentos contra mim e o juiz determinou que eu lhe desse uma pensão de Cr$ 12 mil durante dois anos. Aí os boatos correram o Brasil inteiro, cada pessoa falando coisas diferentes. Fazem só dois meses que assinei o desquite. Em menos de um mês levei duas porradas: a da Seleção e a do casamento. O juiz ainda achou que eu fiz bom negócio, mas nesses negócios de má fé não existe nada de bom. Agora com a Lei do Divórcio só serão divididos os bens que você adquire depois de casado.

 Jaguar - Foi um caso de amor fulminante? 

PC - Não, namorei durante quase um ano, seis meses no Brasil e seis lá. Na época eu realmente gostava dela. O pessoal da minha casa queria que eu esperasse, pois eu tava ganhando quase 10 mil dólares livres, vivendo na Europa, com duas passagens ida e volta pro Brasil por ano, Marselha vice-campeão da França depois de estar na Segunda Divisão. Minha convivência com ela foi pouca, mas quando isso pintou foi um choque muito grande porque eu não esperava. Nunca usei de má fé com ninguém, mesmo reivindicando meus contratos peço aquilo que acho que eu valho. Foi uma cacetada muito forte e até o final não acreditava que tivesse que dar quatro bi de um dinheiro que eu batalhei, levando vaia, paulada da crítica, tudo. E o juiz ainda diz que foi bom negócio!

Jaguar - Quanta canelada você levou pra juntar essa grana, hem?

PC - Nunca misturei minha vida profissional com minha vida particular.

Jaguar - Pensou em consultar um analista?

PC - Não. Batia muito papo com o psicólogo do Fluminense que é meu amigo, mas segurei a barra sozinho. 

Jaguar - Nós convidamos um entrevistador que não compareceu dizendo que você se desestrutura muito fácil e que se ele viesse você se perturbaria porque ele te saca. É o Carlinhos de Oliveira. 

PC - Não... Encontro com ele só de vez em quando no Antonio's, mas já fez umas crônicas maravilhosas a meu respeito. 

Jaguar - Ele falou que você ia até botar ele pra fora! 

PC - (ri) Só mesmo o Carlinhos!

Chico - De repente começaram a cobrar determinadas posições políticas dos jogadores de futebol. Até o Pelé se manifestou a favor do voto. 

PC - Mas ele se machucou um pouco quando disse que o povo brasileiro não sabia votar.

Jeferson - Você acha que sabe? 

PC - Pelo menos devia ter esse direito. Eu tenho 28 anos e nunca votei. 

Chico Jr. - Quem é o seu candidato a presidente?

PC - No momento não vejo nenhum. 

Chico - Muda de idéia senão não vai ser convocado mesmo! O que você acha do homossexualismo no futebol?

PC - Não acredito que existam jogadores homossexuais.

Chico - Então o que é homossexual pra você? Pô, e aquele seu falado caso com o Neetzens?

PC - Tem nada a ver. A única vez que tive com Neetzens foi na Copa de 74, e nem joguei contra a Alemanha. Gosto de mulher e não de homem, pô!

Jeferson - E o famoso Rubens, que jogou no Flamengo? 

Chico - O próprio Pelé não ganhou uma Mercedes? 

PC - Questão de amizade.Tem disso não. 

Jaguar - Quais são seus amigos no futebol?

PC - Amigo mesmo tinha o falecido Geraldo, tem o Pintinho, Rivelino, Borrachinha, Fred (meu irmão que joga no Botafogo)...

Jeferson - Tô engasgado com a morte do Geraldo até hoje. 

PC - Também tô. Como não presenciei nada não posso te contar nada. Li o que houve pelos jornais. Eu só sabia que ele tinha que ser operado na garganta. Foi uma coisa que chocou todo mundo. 

Jaguar - O que você acha da mobilização para sindicalizar o atleta? 

PC - O pessoal vem vem batalhando isso há bastante tempo, mas quem conseguiu muita coisa foi o Zé Mário, do Vasco.

Jaguar - Por que o Pelé, que é o Pelé, nunca deu uma palavrinha nesse sentido?

PC - Se dissesse teria que ser na época que jogava, agora não adianta mais. 

Jaguar - Aquele massacre do Ângelo, por exemplo, foi uma falta total de consciência de classe.

PC - Não acredito que Minelli tenha deliberado que os jogadores fizessem aquilo, mas que houve uma desonestidade por parte do Neca dá pra gente ver. Na Revista Placar vi nitidamente que o Ângelo vem pra dividir e o Neca vai na perna. Ângelo vinha numa fase maravilhosa e agora... Foi menisco, ligamento, tudo embora. Inclusive no dia do jogo, mesmo com o time do Atlético jogando mal, ele estava bem. A Federação Inglesa de Futebol tem a seguinte lei: durante o tempo que o jogador ficar machucado aquele que fez a agressão, se foi proposital, também tem que ficar parado. Isso deveria ser adotado no Brasil pra acabar com a violência. Contundiu o cara, fica fora também. 

Jeferson - Li no jornal que o Tribunal da CBD puniu de maneira muito severa o Cerezo, o Léo Oliveira do América, e você, que foram suspensos por três jogos, mas como já haviam cumprido um automaticamente os outros dois foram transformados em multas, uma de Cr$ 8 e outra de Cr$ 4. 

PC - Mas no passado me prejudicaram. Fui expulso na Bahia logo antes do Fluminense entrar na semifinal do Campeonato Nacional, jogando contra o Atlético e o Corinthians. Não pude jogar na semifinal e o Fluminense perdeu nos pênaltis. Agora que o campeonato está no início transformaram os jogos em multas. 

Chico Jr. - Por que o futebol brasileiro está se tornando cada vez mais violento?

PC - Sou contra a violência no futebol, mas há jogadores de poucos recursos que não admitem tomar um drible ou perder um jogo. 






A descontração de Paulo Cézar 




Jeferson - Mas dos 814 jogadores que participam de um Campeonato Nacional a grande maioria é deste tipo. 

PC - Os times inferiores, pra equilibrarem os jogos contra o Vasco, o Corinthians, o Palmeiras, precisam jogar duro. Admito que esses jogadores sejam viris, mas não desleais. Neca foi desleal e prejudicou um homem que tem uma família pra sustentar. Ângelo falou: "Agora vou ficar um ano sem jogar, sem ganhar bicho..." E Neca continua faturando. Tô citando esses dois, mas isso acontece com todos que usam a violência pra diminuir a técnica dos outros. 

Beto - A suspensão do Serginho foi justa?

PC - Eu também às vezes perco a cabeça, mas nunca vou agredir um juiz ou bandeirinha porque tô sabendo que vou ser suspenso de seis meses a um ano. Serginho também sabia isso. Não adianta ficar dando desculpas depois, "perdi a cabeça, me descontrolei", porque o atleta entra em campo sabendo disso. Renê e Brito não foram suspensos? Serginho sabia também que praticamente já estava convocado. Agora vai ficar um ano suspenso.

Jaguar - Um ano fatal porque aí perde a forma.

PC - E a motivação. No futebol tudo é o momento. Se um jogador estiver jogando bem e logo depois vem uma excursão pra Europa ou é convocado pra Seleção poderá melhorar mais ainda.

O Brasil ir bem ou mal na Copa muda o momento dos jogadores.

Jaguar - Afonsinho foi um jogador excelente que sumiu de repente. 

PC - Porque tinha personalidade, brigou, conseguiu o seu passe, e ficou marginalizado. Vejam o caso do Jairzinho: com 31 anos conseguiu o seu passe e tá ganhando dinheiro pra burro. Mas antes teve que ir pra Caracas e pra Marselha, depois voltou jogando no Cruzeiro. Afonsinho não teve essa chance e acabou marginalizado.

 Chico Jr. - São poucos os jogadores de futebol que sabem administrar a própria carreira.

PC - Às vezes não é falta de inteligência, mas de estrutura. Não sou contra os caras que não lutam, mas tenho o meu temperamento e não vou mudar. Quero viver bem com minha consciência. 

Chico - Com todo o dinheirão que você ganha...

PC - Não é tanto como você tá pensando.

Chico Jr. - É? Quem ganha muito então sou eu? Com tanto dinheiro na mão você estaria disposto a brigar num sindicato por um Zé da Silva do Madureira que ganha Cr$ 100 por jogo?

PC - Claro, formamos o sindicato principalmente pra ajudar os caras que jogam em times pequenos e não tem nenhum amparo. 

Jeferson - Não são esses jogadores que enfrentam o Paulo César na base do pau pra poder garantir o seu? 

PC - Mas mesmo assim se você for no inferior tecnicamente poderá tentar ser melhor fisicamente sem recorrer a violência. Os europeus são menos hábeis do que os sul-americanos, mas suprem isso com uma condição física incrível sem ser desleais. É difícil você ler que um jogador europeu quebrou a perna do outro. No Brasil isso acontece toda hora.

Jeferson - Mas na Europa existe toda uma estrutura técnica montada pra dar condicionamento físico para os jogadores, enquanto aqui a maioria das concentrações são casa de pau a pique. 

PC - Isso é da própria estrutura do futebol brasileiro. 

Jaguar - O que você acha da concentração?

PC - Não sou contra, mas não acho que precise ser longa. Já participei de duas Copas do Mundo: numa ficamos três meses fomos campeões, mas na outra ficamos concentrados três meses e ficamos em quarto lugar. A Alemanha e a Holanda - o campeão e o vice - começaram a se concentrar só um mês antes da Copa. Agora mesmo, o Botafogo, sem estar concentrado, foi pras finais do Campeonato Brasileiro. 

Beto - E terminou invicto. 

PC - Se o jogo era no domingo treinávamos no sábado e depois íamos pra casa, íamos a um cinema, levávamos uma vida normal. Isso não quer dizer que saia todo mundo correndo pra uma boate. Eu dormia meia-noite, acordava no outro dia, almoçava, ia ao clube, ia pro Maracanã e jogava. Já o Fluminense também não se concentrou, mas foi mal, e depois da desclassificação voltou ao regime de concentração. 

Jaguar - Tem lógica um time terminar um campeonato invicto e não se campeão? 

PC - O São Paulo foi campeão com cinco pontos a menos que o Botafogo e dez a menos que o Atlético Mineiro. No Brasil deveríamos fazer como na Europa: 20 a 22 clubes na Primeira Divisão, 23 disputam na Segunda, e outros tantos na Terceira. Os três últimos da Primeira caem pra Segunda e os primeiros da Segunda sobem. 

Jaguar - Que nem escola de samba.

PC - Esse negócio de jogar 64 clubes é uma loucura, mas preferem ficar nessa batalha do que fazer três divisões. A própria imprensa esportiva pensa como eu, mas não mudam nada. 

Jeferson - Por que?

Jaguar - No Brasil não há clima pra isso. 

PC - Já colocaram 70 clubes e ano que vem vão colocar mais 12. 

Jeferson - Paraguaçu tem que estar no Campeonato de 79!

Chico Jr. - O pessoal da Rádio Globo me contou que os locutores não podem mais irradiar os seus jogos dizendo "lá vai PC, pega a bola PC..." porque esse termo foi proibido. 

PC - Não sei, não posso ouvir uma irradiação ao mesmo tempo que tô jogando, né? 

Jaguar - PC, e o problema da abstinência sexual antes das partidas? 

PC - Engraçado, às vezes jogo uma pelada na praia, ou um futebol-society com amigos - jogos que duram duas ou três horas - no mesmo dia em que tive um ato sexual. Não acontece nada e tenho o mesmo rendimento. Mas numa partida de futebol é diferente. Pode ser a emoção, ou a responsabilidade... Jogando entre amigos você não tem que dar satisfação a torcedores ou à imprensa, entendeu? Se tenho um ato sexual no domingo de manhã, de tarde já entro no Maracanã grilado. 




Charge de Paulo Cézar 





Chico Jr. - Mas isso pode ser condicionamento.

PC - É, no jogo você já entra condicionado pra ficar encucado e tá arriscado a ter uma distensão devido ao desgaste físico durante a transação sexual, pela responsabilidade e tensão de ter que dar satisfação a torcedores, à imprensa e a você mesmo. Se eu jogar mal fico me sentindo culpado. 

Jeferson - Isso aconteceu com você?

 PC- Foi um amistoso do Botafogo contra o São Paulo. Na véspera fui a uma filmagem da Darlene Glória e tive uma transação com uma menina. Fiquei com tanta tensão que meu rendimento no outro dia foi péssimo. 

Jeferson - Isso que você acaba de dizer mostra que você se preocupa com seu rendimento e que não é tão irresponsável quanto dizem. 

PC - Sou profissional. Me chamam de irresponsável porque vou a boate, gosto de mulheres, saio, viajo e curto a vida. 

Jaguar - E porque pintou o cabelo de acaju. 

PC - Quando tomo sol, vou muito à praia, meu cabelo fica vermelho mesmo. 

Jaguar - E porque pega louras maravilhosas.

PC - Louras, pretas, japonesas, chinesas, todo mundo. 

Chico Jr. Peraí PC, aí só mesmo o Garrincha.

PC - Mas eu sei dividir. Hoje tenho uma festa pra ir, mas como arrebentei o pé no treino vou ficar em casa. Se eu for não vou poder dançar e me divertir, prefiro ficar em casa.

Jaguar - Mas as mulheres dão muito em cima de você, né?

PC - Dão em cima de todo mundo. As mulheres é que tão ganhando os homens. 

Chico Jr. - Onde você foi mais solicitado: na Europa ou no Brasil? 

PC -Me dei muito bem na França. Na época em que eu vim embora ia até gravar um disco. Em 73 a Seleção Brasileira fez uma grande excursão à Rússia, Áustria, Alemanha, Suécia, França, Itália, e em todos esses países dificilmente a gente via um negro. Quando pinta é uma novidade. O que existe são aqueles africanos que vão estudar na universidades. A raça lá é toda pura. Na Suécia teve um lance engraçado: eu, Jair e Marco Antonio fomos a uma boate onde tinha três jornalistas de São Paulo com umas meninas. Sabe que as meninas largaram os caras e vieram ficar com a gente? Foi por causa da curiosidade da cor. 

Jaguar - Mais três paulistas contra você! 

Chico Jr. - Você toparia jogar em São Paulo?

PC - É um desafio que aceito.

Chico Jr. - Mas iam te te jogar pedras e garrafas...

PC - ... depois jogariam flores. Gosto de desafios. Nunca tive a opinião unânime do povo a meu lado. Não fazem restrições a meu futebol, mas a sempre existiram críticas a minha vida particular. 

Jaguar - Qual é a mulher melhor de cama?

PC - As brasileiras são as mais fortes. (Chico, Beto e Toninho concordam entusiasticamente

Jaguar - Vamos parar com essas patriotadas aí! Fora as brasileiras, quais, PC? 

PC - Gostei mais das alemãs. 

Jaguar - As alemãs não são duras de cintura?

PC - Não, gostei muito. Em Paris transei com uma alemã maravilhosa. 

Jaguar - Seu francês dá pra quebrar um galho?

PC - falo francês fluentemente. Morei um ano e meio em Paris, sem ter com quem conversar em português. Cheguei na França sem entender bulhufas e fui obrigado a aprender na conversação. Tinha um intérprete que só falava em espanhol e e muito mal. 

Jeferson - Como é que você entrava no esquema do time?

PC - Me deixavam jogar à vontade, e eu tinha total liberdade dentro de campo. Com Zagalo também tenho total liberdade pra jogar. Na própria Seleção Brasileira, quando convocado pelo Coutinho, também foi assim. 

Jaguar - O técnico para ser bom precisa ter sido jogador de futebol?

PC - Sim. Pelo menos já jogou, conhece a barra do futebol, não bate na bola de tornozelo. 

Jaguar - No meu caso, por exemplo, não entendo como um sujeito que não é jornalista pode dirigir uma redação. Como é que um técnico que não sabe chutar vai mostrar no campo como um jogador deve fazer ao dar um chute? Por falar em chutar, o índice de perda de pênaltis no jogo Atlético x São Paulo foi alarmante! Como é que você explica uma coisa dessas? 

PC - Pênalti é uma coisa de muita responsabilidade, principalmente numa decisão como aquela, que deu sete milhões de renda com 130 mil pessoas. Pro goleiro não é nada: se pegar vira herói, se não pegar tudo bem, não é chamado de frangueiro. Agora, pro cara que vai bater... como dizia Neném Prancha: "Pênalti é uma coisa tão importante que quem devia bater era o presidente do clube". A responsabilidade do Toninho Cerezo foi tão grande que perdeu o Campeonato Brasileiro e até hoje está abatido. Zico também ficou assim quando perdeu um pênalti contra o Vasco numa decisão da Taça Guanabara. Zico é um cara que admiro porque treina muito. Como é que o Nelinho consegue bater faltas daquele jeito? Porque todos os dias fica de uma hora a uma hora a e meia treinando faltas.

Jaguar - Mas todo jogador devia ser assim. A profissão deles não é jogar futebol? O cara não pode errar. 

PC - Pois é, mas eles têm dois a três meses pra preparar uma Seleção e não convocam o Nelinho.

Chico Jr. - Qual é a tua seleção?

PC - Carlos, Nelinho, Luís Pereira, Edinho ou Amaral e Marinho; Cerezo, Rivelino e Paulo César; Gil, Reinaldo e Zico. 





PC no conforto do apê do Leblon



Beto - E Leão? 

PC - É um ótimo goleiro, mas gosto mais do estilo do Carlos. (interrupção para outro telefonema

Toninho - Quem ganha a Copa?

PC - Se o Brasil convocar esses jogadores chega entre os quatro finalistas. Se Cruyff for pra Copa a Holanda também chega. 

Jaguar - Um elemento só pesa tanto assim na balança?

PC - No time da Holanda sim. Jogam na base da coletividade, mas giram em torno de um gênio. Os outros dois finalistas devem ser a Alemanha e a França. (os entrevistadores protestam dizendo que a inclusão da França é pra fazer média) Não, quando eu vim para o Brasil em 75 já previa que a França se classificaria para a Copa do Mundo. José Inácio Werneck até me criticou dizendo que o futebol francês era fraco e estava entre os piores da Europa. A Seleção da França não perdeu para nenhuma seleção européia, ganhando até da Alemanha, empatou com o Brasil aqui e empatou com a Argentina dentro de Buenos Aires. 

Jaguar - Quem é o grande craque de lá?

PC - Tem dois jogadores bons: Platiny e Tresor. Este último jogou comigo no Marselha, era o capitão do time. 

Jaguar - E os grandes craques do mundo, no momento? 

PC - Rivelino, Paulo César, Beckenbauer, Zico, Cruyff, Mário Kempes. 

Jaguar - A Argentina não tem nenhuma chance? 

PC - Não sei, não acompanho seu futebol, não recebo revistas de lá. Tem um futebol de habilidade, mas não se preparam tão bem fisicamente quanto o jogador brasileiro. Tem técnica, mas não tem pulmão. 

Jaguar - A fama dos jogadores argentinos é de serem meio paulo-césar: jogam pra burro, mas só quando querem. 

PC - Mas teve uma fase em que o Brasil nunca conseguia ganhar da Argentina. Eles vinham aqui, metiam três ou quatro, os brasileiros iam lá, tomavam de cinco ou seis...

Chico Jr. - Tô notando que você se preocupa muito com a imprensa, manjando os detalhes de pessoas como José Inácio, Cláudio Mello e Souza, Ziraldo, Carlinhos de Oliveira... 

PC - Leio muito. Aceito aqueles que me criticavam porque tem o direito de me criticar, da mesma forma que posso criticá-los. 

Jaguar - E livros, você lê? 

PC - Sim, agora tava lendo "O Homem" do Irving Wallace, sobre um negro na presidência dos Estados Unidos.

Chico Jr. - Qual é o seu nível de escolaridade? 

PC - Segundo Grau. Meu irmão passou pra Educação Física e eu larguei, mas se continuar no futebol brasileiro tô a fim de fazer uma faculdade, talvez Comunicação. Em 73 fiz uma conferência na FACHA e Hélio Alonso ficou tão empolgado que me deu uma bolsa, mas negócio de futebol é difícil, vive tendo que trancar matrícula. (telefonam uns amigos pra combinar os detalhes da viagem a Búzios. A ligação está ruim e ele tem de gritar)

Jaguar - O que você acha da maconha? 

PC - Quando eu parar de jogar bola, tudo bem. Agora não fumo nem cigarro. 

Jaguar - E bebida?

PC - Também não. De vez em quando só tomo uma champanhezinho. Futebol não se mistura com essas coisas. Vocês viram que o Nei meteu bronca e se deu mal. Pra fazer essas coisas o cara tem que ter muita estrutura. O Nei tava aí, titular do Botafogo - jogava comigo - dentro da Seleção Brasileira, aí viciou e agora tá morto. Quem é Nei? Alguém ainda fala dele? Lembra quando ele jogava ao lado de Carlos Alberto? O Botafogo era um timaço, né! (mais um telefonema. Agora é uma mulher que vai pra Angra, mas PC a convence a ir pra Búzios) Na Copa de 70 fizeram umas pesquisas aí e proibiram os jogadores de fumar cigarro. Gérson tinha que fumar escondido...

Chico Jr. - Agora fuma diante de 80 milhões de pessoas, certo?

Jaguar - O fato do Gérson, um atleta que foi tricampeão do mundo, fazer propaganda para uma marca de cigarro significa que isso não faz mal?

PC - Sei lá, é difícil a gente opinar. Ele fez essa propaganda depois de ter parado de jogar futebol, né. (outra interrupção pra PC conversar no telefone com um amigo que vai fazer pós-graduação na França. Logo que ele desliga, novo telefonema de uma mulher querendo saber se a entrevista terminou. E logo que põe o fone no gancho o telefone insiste em tocar novamente: é outra mulher, querendo saber por que ele não foi à praia de manhã. Depois PC fala com uma amiga dela e passa os próximos dez minutos tentando convencê-la - com uma voz melosa - a passar a Semana Santa com ele em Búzios. Volta pra entrevista sorrindo) Depois dizem que sou homossexual? 

A moça (entrando na sala) - Começou o jogo!

Jaguar - Vamos lá assistir a pelada. (Saem todos correndo e se plantam diante da televisão. O resto foi aquela monotonia que os leitores devem ter assistido. Quando a Seleção conseguiu marcar um gol os entrevistadores já tinham ido embora pra casa)



Sou Tricampeão - Golden Boys















terça-feira, 24 de dezembro de 2013

A entrevista de Celso Barros na Rádio Globo

O presidente da Unimed-Rio, Celso Barros, concedeu uma importante entrevista para a Rádio Globo nesta segunda-feira, dia 23 de dezembro. "O Fluminense precisa tomar decisões e estão jogando nas costas do patrocinador estas situações. Não vou ficar refém da situação política do Clube", afirmou Celso Barros

Celso Barros ainda enfatizou: "O Fluminense mandou embora o Rodrigo e contratou o Ximenes. Então, arque com as consequências e custos, que já estão acima do nosso investimento".


Confira a entrevista com Celso Barros na Rádio Globo e tire suas conclusões...

sábado, 21 de dezembro de 2013

Defesa tricolor

Foi publicado um importante artigo sobre o Fluminense no jornal O Globo neste sábado, dia 21 de dezembro. O artigo, intitulado “Defesa tricolor” é de Ricardo Tenório. Veja abaixo o artigo de Ricardo Tenório na íntegra:




Nos últimos dias, a sociedade brasileira foi convertida num imenso Fla-Flu. O acontecimento que deflagrou o processo foi a escalação irregular de dois jogadores de futebol que disputaram o Campeonato Brasileiro. O debate foi patético e pautado pelo cinismo, mas, diante dos ataques sofridos pelo Fluminense, não é possível deixar de propor algumas reflexões aos torcedores em geral.

Há uma espécie de Constituição para o futebol. Trata-se do Código Brasileiro de Justiça Desportiva. E ele não pode ser mais cristalino ao fixar perda de pontos para o atleta em situação irregular. Foi esse o entendimento do STJD ao punir Portuguesa e Flamengo. E, por irônico que pareça, graças à punição sofrida pela Portuguesa, o Flamengo permanecerá na primeira divisão em 2014.

O mesmo acontecerá com o Fluminense, para incômodo de seus rivais. Fosse um clube de menor porte, e nada teria sido dito ou comentado. Mas foi o Fluminense, o que de imediato produziu uma reação em cadeia. Nenhum dos que vieram a público atacar o Fluminense desconhece a lei. Agiram movidos por clubismo ou má-fé.

O Fluminense não moveu um só músculo para que as irregularidades cometidas por Flamengo e Portuguesa fossem denunciadas. Quem o fez (e o fará sempre que for constatada uma irregularidade) foi a CBF. Nem por isso o clube tem deixado de ser retratado como vilão. Foi dito (e continua a ser) que estava recorrendo ao tapetão ou virando a mesa. Tudo isso sem que tivesse sido o autor de uma só denúncia ou de uma mera ação judicial. Um leigo que se deparasse com o acalorado debate dos últimos dias pensaria que o réu do processo era o Fluminense, não duas outras agremiações.

A lei não proclama o que se quer ouvir? É como se dissessem: “Pior para a lei e para a Justiça! Que sejam ignoradas!” Recorrem então ao discurso da ética e da moral, como se qualquer das duas pudesse prosperar à margem da lei. Vasculham e distorcem o passado para atacar o Fluminense, como se o passado estivesse em questão. Ignoram deliberadamente que outros clubes, os supostamente indignados, caem em contradição a todo momento. O presidente de um deles disse que jamais recorreria ao tapetão, esquecendo-se de que o fizera meses antes, mas não se chamou atenção para o fato.

O STJD decidiu em primeira instância que os clubes infratores devem ser punidos com a perda de pontos. Isso não encerra a questão. Por dois motivos: cabe recurso e, acima de tudo, porque prosseguirá a falsa cruzada pela moralidade. Tudo mentira, cinismo, balela. O que não querem é ver o Fluminense na primeira divisão. Se o Flamengo estivesse no lugar do Fluminense em toda esta polêmica vazia e desnecessária, desde o início a maioria dos que hoje se “indignam” estaria calada, celebrando em silêncio ou mesmo assumindo o discurso de defesa da legalidade.

O respeito à lei que se defende na aplicação aos crimes de corrupção deixa de ser relevante quando está em jogo o regozijo de ver um rival cair. É o caso de pensar se a mesma energia que se vê agora direcionada para atacar o Fluminense não devia ser canalizada para cobrar melhorias em áreas como saúde e educação, reivindicar avanços no transporte público ou na infra-estrutura do país.

Um jogador do Fluminense já foi hostilizado publicamente. É o que se deseja? Todos estão cientes da enormidade do mal que pode causar uma mentira repetida muitas vezes. O patético dos últimos dias faz lembrar “O rinoceronte”, peça de Eugène Ionesco. Muitos já a interpretaram como uma alegoria do que a irracionalidade é capaz, especialmente em regimes totalitários. Na peça, as pessoas se transformam em bestas imunes à razão. Em dado momento, um dos personagens afirma: “O medo é irracional. A razão deve vencê-lo.” Não é o que acontece. Apenas um dos personagens resiste a se converter em rinoceronte. A peça chega ao fim com seu brado de defesa da razão e da liberdade: “Contra todo o mundo, eu me defenderei! Eu me defenderei contra todo o mundo! Sou o último homem, hei de sê-lo até o fim! Não me rendo!”



Ricardo Tenório é empresário e foi vice-presidente de futebol do Fluminense             

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Flu campeão carioca de basquete de 1988: "25 anos"

Em pé, da esquerda para a direita: Marcelo Alves Martins (Marcelão), Fabio Rodrigues Pereira (Fabão), José Luiz Cavalcanti Pelaggi (Zé Luiz), Paulo Cesar Vidal da Silva (Paulão), Márcio da Silva Pereira, José Paulo da Silva Filho (Zé Paulo), Jorge Augusto Oliveira Jr. (Jorginho), Tude Sobrinho - Técnico. Agachados da esquerda para a direita: José Alberto Batista de Souza (Beto), Márcio de Paula Malafaia (Lourinho), Fábio Bergman, Carlos Augusto Padilha, Tude Neto - Diretor. Não estão nesta foto: George Davies, Christopher Lee Winanf e Mário Jorge Soares Filho.      




Exatamente no dia de hoje, 20 de dezembro, completam-se 25 anos da conquista do último título carioca de basquete masculino do Fluminense. O Clube concorreu, em 1920, pela primeira vez ao campeonato carioca de basquetebol. E de 1920 até 1988 foram vários títulos conquistados.

Das quatro equipes que lutavam pelo título de 1988 (Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco), o Flamengo poderia ser definido como o primo rico do esporte. Enquanto aos outros três cabia o papel de primo pobre. No Flamengo estavam três dos melhores jogadores do Brasil – o armador Maury e os alas Cadum e Paulinho Villas-Boas. O Flamengo investia pesado. Os gastos mensais com o basquete rubro-negro chegavam a Cz$ 7 milhões. Nos outros três clubes as despesas eram bem inferiores. O Vasco investia Cz$ 600 mil e o Botafogo Cz$ 400 mil por mês. Patrocinado pelo Consórcio Unyama, o Fluminense gastava em torno de Cz$ 500 mil por mês. O salário dos americanos Christopher Lee e George Davies (US$ 800 para cada um) era pago por um grupo de sócios do Fluminense.

Em 1988, o Flu foi trabalhando em silêncio e foi somando vitórias até chegar ao jogo final. A partida que decidiu o título foi realizada numa terça-feira, à noite, no ginásio do Tijuca Tênis Club.

Ao derrotar o Vasco por 77 a 68, o Fluminense quebrava um jejum de 13 anos sem títulos, desde quando tinha conquistado o pentacampeonato. Os tricolores iniciaram a partida com muita disposição e com uma eficiente marcação. Disputando cada rebote, o Fluminense até o fim do primeiro tempo manteve uma diferença no placar de oito a doze pontos. Sentindo uma contusão o norte-americano Christopher Lee ficou no banco durante todo o primeiro tempo, que terminou com a vitória do Flu pelo placar de 43 a 34.

Na etapa final, o Vasco endureceu o jogo, chegando a empatar. Do banco, Lee comandava a torcida e gritava muito para o time. Mas o Flu sob a vibração de sua torcida arrancou para a vitória do título. Quando faltavam 15 minutos, o técnico Tude Sobrinho usou a sua força máxima colocando em quadra o pivô Christopher Lee. Quando entrou na quadra Lee agitou a torcida e foi muito aplaudido.

Na quadra, Lee teve uma atuação discreta. Mas seu compatriota George Davies foi o melhor do Fluminense. Davies ainda foi o cestinha da partida. Ao final da partida, a torcida invadiu a quadra para festejar com os jogadores. Davies comemorou com muita emoção e declarou ao Jornal do Brasil:

– Sou campeão e vou ficar no Brasil por muito tempo. Amo esse país!



Em pé da esquerda para a direita: Jair Batista ("Seu" Jair - Roupeiro), Mário Jorge Soares Filho, Marcelo Alves Martins (Marcelão), Fabio Rodrigues Pereira (Fabão), Jorge Augusto Oliveira Jr. (Jorginho), Christopher Lee Winanf, Paulo Cesar Vidal da Silva (Paulão), Márcio da Silva Pereira, Tude Sobrinho - Técnico. Agachados da esquerda para a direita: Tude Neto - Diretor, George Davies, Márcio de Paula Malafaia (Lourinho), Fábio Berman, Carlos Augusto Padilha, José Alberto Batista de Souza (Beto).   





Ao término da partida o ala Márcio ergueu a taça do título cercado pelos torcedores. O ala Zé Luís – um dos ídolos da torcida pela raça com que disputava cada partida – não conteve as lágrimas. Ao tentar impedir que a bola saísse pela lateral, ele se chocou com a grade que separa a quadra das cadeiras e machucou o joelho. Mas o ala jogou até o fim do jogo. Zé Luís declarou ao jornal O Globo após a partida:

– O Fluminense provou ser o melhor time do campeonato, apesar de ter um elenco ainda muito jovem. Vencemos todas as grandes equipes. Acho que ninguém mereceu mais esse campeonato.

Tude Sobrinho era o técnico campeão de 1988. No pentacampeonato, Tude conquistou quatro títulos. Com o fim da partida, sua esposa, Eliana, invadiu a quadra e deu-lhe um longo abraço enquanto os jogadores comemoravam a conquista do título. Ao Jornal do Brasil, Tude Sobrinho declarou emocionado, após a conquista do título:

– Há 13 anos, o Fluminense era pentacampeão, e eu era o técnico. É uma alegria enorme poder levar o clube de novo a um título.

Miguel Ângelo da Luz era o assistente técnico da equipe de basquete do Fluminense em 1988. Posteriormente, Miguel Ângelo da Luz tornou-se o treinador da Seleção Brasileira de basquetebol feminino campeã mundial em 1994, na Austrália. Miguel Ângelo da Luz também foi o treinador da Seleção Brasileira de basquetebol feminino que conquistou a Medalha de Prata nos Jogos Olímpicos de 1996, em Atlanta, nos Estados Unidos.  

Pelo Fluminense jogaram e marcaram no jogo decisivo: Jorginho (12), George Davies (26), Paulão (9), Fabinho (8), Zé Paulo (7), Marcelo (2), Christopher Lee (8), Zé Luiz (5).

O Blog “CIDADÃO FLUMINENSE” fez contato com alguns integrantes do elenco do basquete tricolor de 1988. Mário era o jogador mais jovem do elenco. Para ele o título de 1988 foi muito marcante. Ele era juvenil, mas já treinava e jogava entre os grandes jogadores do time principal. Foi uma bela experiência de vida para Mário fazer parte daquele grupo. Para ele, o contato com os norte-americanos – Christopher e George – foi muito bacana.

O título de 1988 para Mário foi o maior momento de sua carreira. Mário jogou no Fluminense durante sete anos. E considerou o Clube uma grande família! Ele considera importante a conquista do título de 1988 pelo fato de ter feito grandes amigos para toda a vida! Mário continua acompanhado o basquete tricolor pelo contato com Renê Santos (Coordenador), que foi seu técnico no infanto e juvenil.






Boletim Informativo Mensal do Fluminense - Fevereiro de 89




Para Marcelão, o momento mais especial da conquista de 1988 foi o jogo contra o Flamengo nas Laranjeiras, decisivo para o campeonato. O título de 1988 para Marcelão significou a conquista de um trabalho de um ano inteiro. Mesmo sendo vascaíno, Marcelão aprendeu a ter um carinho especial pelo Fluminense, que hoje considera o seu “time do coração”. Marcelão começou a jogar no Fluminense aos 15 anos de idade e saiu depois da conquista do título.

Para Marcelão a grande importância e emoção da conquista de 1988 é que o título significou uma grande superação. Pois o time do Flamengo era um “time de estrelas” e o Fluminense conseguiu vencê-los. Atualmente, Marcelão está casado e morando em outro estado. Portanto, distanciou-se do Fluminense. Com isso não tem acompanhado o basquete do Flu.

Fábio Rodrigues Pereira, o Fabão, destacou que, um momento muito especial desta conquista foram os dois jogos contra o Flamengo. O primeiro, em especial, porque os reforços dos dois times ainda não tinham condições de jogo, e isso, transformou o jogo na Gávea como fundamental para o título. O Flamengo era o franco favorito. Ninguém apostava no Fluminense. O time do Flamengo, que já era muito bom, se reforçou com três jogadores da seleção brasileira. Um timaço que o Flu venceu nas duas partidas.

O título de campeão carioca de basquete de 1988 para Fabão foi à conquista mais importante da sua carreira como atleta. Pois ele começou tarde a jogar basquete, com 18 anos. Com 23 anos Fabão era campeão carioca adulto disputando uma série de campeonatos duríssimos.

Fabão considera que vestir a camisa do Fluminense foi uma honra. Ele começou a sua carreira de jogador de basquete no Fluminense, em 1984. Depois de uma breve saída, em 1991, voltou ao clube de 1994 a 1996, como jogador. E passou a ser técnico das categorias de base do Flu até 2007. Como jogador de basquete, Fabão jogou no Clube em 2003 e 2004, quando encerrou sua carreira. Portanto, como jogador do Fluminense Fabão viveu 13 anos muito bons.

A conquista do título de campeão carioca de basquete de 1988 foi uma emoção incrível para Fabão. Pois conseguiram voltar a protagonizar o campeonato depois de 13 anos sem conquistá-lo. Fabão considerou isso como um fato incrível! Até hoje, quando Fabão fala sobre o título de 1988, tem sentimentos maravilhosos e lembranças incríveis que voltam e fazem com que ele reviva aquele momento.

Fabão tem acompanhado o desenvolvimento do basquete tricolor desde 1988. Ele foi técnico da base até o adulto do clube de 1994 a 2007. Mesmo depois de sua saída acompanha o basquete carioca e em especial o basquete tricolor. E é com enorme pesar que ele diz isso. Pesar, porque durante todo esse tempo Fabão vê uma deterioração da importância do basquete e dos esportes olímpicos dentro do Fluminense. Para se ter uma ideia de suas palavras, o Fluminense até meados da década de 1990, nunca tinha deixado de disputar um campeonato adulto sequer. Porém, desde então, vem pipocando com suas participações no Estadual. Até time emprestado já teve – quando o Minas Tênis representou o Flu no Estadual de 2007

Fabão acredita que o Fluminense deveria voltar a participar todos os anos do campeonato estadual. E ainda voltar ao Brasileiro (NBB). Fabão disse: “O basquete do Fluminense tem história! E ela deve continuar a ser escrita da maneira que o clube merece. Ou seja, do tamanho da grandeza do Fluminense! Não mais como os pequenos clubes de bairro que entram e saem do campeonato carioca de acordo com os interesses de seus presidentes. O basquete tricolor merece respeito!”        





Assista algumas imagens do Fla-Flu do primeiro turno de 1988 realizado no ginásio da Gávea, com a vitória do Flu por 79 a 71: