sábado, 12 de abril de 2014

Itália, o país do futebol

A coluna Panorama Esportivo do jornal O Globo deste sábado, dia 12 de abril, publica uma importantíssima nota sobre o Fluminense. A nota é intitulada "Flu desafia a Azzurra". Veja abaixo a nota na íntegra:


Aproveitando a paralisação do Campeonato Brasileiro para a Copa do Mundo, o Fluminense foi convidado para jogar um amistoso contra a seleção da Itália. Cinco dias antes da estreia no Mundial contra a Inglaterra, em Manaus, a Squadra Azzurra enfrentará o tricolor carioca. Será no Estadio Raulino de Oliveira, em Volta Redonda, no dia 8 de junho.



                Buffon, Materazzi, Toni, Grosso e Totti. 
Gattuso, Pirlo, Camoranesi, Cannavaro, Zambrotta  e Perrotta.

SQUADRA AZZURRA TETRA CAMPEÃ MUNDIAL DE FUTEBOL
                            1934 - 1938 - 1982 - 2006


Diante da notícia da realização da partida entre o Fluminense e a Seleção da Itália, cabe uma reflexão sobre os italianos em nosso país. A imigração italiana no Brasil teve como ápice o período entre 1880 e 1930. Neste período, a nacionalidade que mais imigrou para a América Latina foi a italiana, superando os espanhóis e os portugueses. Dos 11 milhões de imigrantes que foram para a América Latina, 38% eram italianos, 28% eram espanhóis e 11% portugueses. Durante a década de 1950 também vieram muitos italianos, embora em uma proporção inferior ao período anterior.

Os ítalo-brasileiros são descendentes do enorme contingente de imigrantes italianos que chegaram ao Brasil. Os ítalo-brasileiros espalharam-se pelos estados do Sul e Sudeste. A embaixada italiana no Brasil estima que, em 2013, viviam no país cerca de 30 milhões de descendentes de imigrantes italianos (cerca de 15% da população brasileira). Os ítalo-brasileiros são a maior população de oriundi (descendentes de italianos) fora da Itália. A contribuição dos italianos é enorme em todos os setores da sociedade brasileira.

Ao contrário do que aconteceu no restante do Brasil, no Rio os imigrantes italianos eram majoritariamente urbanos, trabalhando principalmente na indústria e no comércio. No início do século XX, viviam no estado 35 mil italianos, a grande maioria na cidade do Rio de Janeiro. Sendo a capital do Brasil a cidade oferecia uma série de alternativas.

Atualmente, vivem no Rio de Janeiro cerca de 600 mil italianos e descendentes, o que significa 4% da população do estado. Os italianos que chegaram ao Rio se diferenciavam, pois eram principalmente meridionais, oriundos das províncias de Cosenza (Região da Calábria), Potenza (Região da Basilicata), e Salerno (Região da Campania). E em número menor, também de Nápoles (Região da Campania), Caserta (Região da Calábria) e Reggio Calabria (Região da Calábria).

A imigração italiana para o Brasil foi um dos maiores fenômenos imigratórios já ocorridos. O Brasil modificou muito os seus costumes com estes imigrantes. Católico e latino, o imigrante italiano assimilou-se no Brasil mais facilmente - por exemplo - que alemães e japoneses. Contudo, o Talian é a segunda língua mais falada no Brasil, após o português. É uma variante da língua vêneta (do norte da Itália), falada no Sul do Brasil, nos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Estimativas apontam em 500 mil o número de pessoas que usam essa língua atualmente no Brasil.

De acordo com as leis italianas, não há diferença jurídica entre um italiano nascido na Itália ou no estrangeiro. No ano de 2003, segundo o Ministero degli Esteri (Ministério dos Negócios Exteriores ou Relações Exteriores), há 284.136 cidadãos italianos no Brasil. A maioria destes, são cidadãos ítalo-brasileiros, visto que a Itália propicia a "cidadania italiana" para os descendentes. Em São Paulo estão inscritos no Consulado 154.546 cidadãos italianos, no Rio de Janeiro 38.736, em Porto Alegre 37.728, em Curitiba 30.987 e em Belo Horizonte 13.769. Nas eleições italianas de 2006, os italianos no estrangeiro puderam participar. No Brasil, 62.599 cidadãos italianos votaram.

O milagre econômico italiano (il miracolo economico) é o nome usado por historiadores e economistas para denominar o período de crescimento econômico da Itália, desde o final da Segunda Guerra Mundial até os anos 1960. Mas especialmente entre 1950 e 1963. Este momento da história italiana representou um período de desenvolvimento econômico, transformando uma nação pobre e rural, em uma grande potência econômica e industrial. E a qualidade de vida melhorou muito para a grande maioria da população. Diante disso, os italianos não tinham mais necessidade de saírem de seu país como no passado.

Aos torcedores e sócios do Fluminense, especialmente aos mais jovens, é importante destacar que, muitos destes humildes imigrantes italianos que chegaram ao Rio de Janeiro, adotaram o Fluminense como o seu "Clube do coração". Os italianos que se fixaram no Rio foram responsáveis pela popularização do Fluminense na cidade e no Brasil. Desde as primeiras décadas do século XX, vários italianos empunhavam a bandeira do Fluminense em suas bancas de jornal (atividade majoritariamente exercida por italianos no Rio no passado). Um dos times mais vitoriosos da história do futebol do Fluminense, contou com dois jogadores que contribuíram muito para o fortalecimento da identificação dos italianos com o aristocrático clube das Laranjeiras: Algisto Lorenzato, o "Batatais" e Romeu Pelliciari.

Muito se fala sobre a semelhança das cores do Fluminense e da bandeira italiana. Sim, é claro que isto contribuiu muito para a adesão maciça dos italianos ao Fluminense. Mas não apenas isso. O imigrante italiano chegava ao Brasil com o intuito de trabalhar, prosperar e e melhorar de vida com suas famílias. O Fluminense em sua trajetória foi um grande exemplo e sinônimo de disciplina, organização, sucesso, tradição e vitória. Estes fatores foram determinantes para fascinar a imensa maioria dos italianos que chegavam à capital do Brasil.

Atualmente, em nosso país se fala muito em internacionalizar a "marca" (na verdade, o correto é a História) dos clubes de futebol. Porém, existem várias formas de se fazer isso. Em alguns casos não é necessário nem sair do Brasil para se fazer isso. Estabelecendo apropriadas correlações identitárias é possível avançarmos neste sentido sem a necessidade de se gastar muitos recursos. Mas para isso é preciso especialização, iniciativa e alguma criatividade.

Caso seja aceito e confirmado o convite da Seleção da Itália (que enche de orgulho e emociona todos os tricolores, em especial os oriundi), este sim será um gigantesco passo dado pelo Fluminense - nos últimos anos -, no sentido de internacionalizar a sua história (ou "marca" como queiram os simpatizantes da linguagem de mercado). Como o Brasil, "a Itália é o país do futebol". Uma grande parte dos 60 milhões de italianos "respiram futebol" diariamente de forma igual como os brasileiros. Achar que os brasileiros gostam mais de futebol do que outros povos é achar que o nosso país é o centro do universo quando na verdade ele está muito longe de deixar de ser periferia. Como o Brasil pode ser considerado o país do futebol, se na maior parte das pesquisas de opinião sobre o "time de maior torcida", em primeiro lugar aparece sempre os que "não torcem por clube algum"? Isso não ocorre na Argentina  (país vizinho do Brasil que também possui enorme colônia italianae muito menos na Itália.

Vivermos no delírio ufanista de que somos conhecidos mundialmente, não levará o Fluminense para lugar algum. Os italianos precisam saber e conhecer que existe no Rio de Janeiro uma instituição esportiva como o Fluminense Football Club. E que o Fluminense iniciou o seu processo de popularização pelo Brasil, com uma enorme colaboração da colônia italiana residente no Rio.

A realização de uma partida entre o tradicional Fluminense e a poderosa Squadra Azzurra - detentora de quatro Copas do Mundo - é um bom e grande início. Muito provavelmente, os 60 milhões de tiffosi estarão atentos acompanhando pela TV a Azzurra nas preparações rumo ao Pentacampeonato Mundial. Que seja feita uma linda festa, com direito a banda de música tocando os hinos nacionais do Brasil e da Itália. Que seja feita uma festa capaz de emocionar os milhões de tricolores - brasileiros e italianos - espalhados por todo o planeta. E de preferência uma festa com o estádio lotado.

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Pontos de reflexão aos tricolores (em especial aos membros do Conselho Deliberativo):

Em 2008, estive em São Januário para entrevistar o presidente do Vasco, Roberto Dinamite. Caminhamos junto com alguns de seus assessores pelas sociais do clube para chegarmos ao seu gabinete. Passamos por um jovem que trajava uma camisa azul da Seleção da Itália. O presidente Dinamite educadamente cumprimentou o jovem e prosseguimos. O Vasco da Gama como muitos sabem é um clube fundado por portugueses e tem o nome do heróico português. E no futebol é um traço de união Brasil-Portugal. No entanto, a camisa da Itália era usada tranquilamente em São Januário, sem problemas. Algum tempo antes deste episódio, fui barrado na sede do Fluminense usando uma camisa azul da Seleção da Itália.
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Na sede da Sociedade Sportiva Palmeiras, em São Paulo, é permitida a entrada de qualquer tipo de camisa de times (e seleções) de futebol, com exceção de times brasileiros.
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No Estádio La Bombonera do Club Atlético Boca Juniors é permitida a entrada de qualquer camisa de times (e seleções) de futebol, com exceção dos clubes da Primeira Divisão do futebol argentino (e do River Plate, obviamente, quando foi rebaixado para a Segunda Divisão).
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Não se pode pensar em internacionalizar coisa alguma, quando são estabelecidos critérios extremamente rigorosos para os visitantes de nossa casa (leia-se Clube). Alguma flexibilização é necessária e deve ser pensada para uma melhor adequação das visitas ao Fluminense. Um exemplo: o goleiro Gianluigi Buffon se quiser visitar a sede das Laranjeiras - mesmo depois de passear com seus filhos vestidos com a camisa do Fluminense numa praia do Rio - e ele estiver vestido com a camisa azul da Itália, pelas atuais normas estatutárias do Fluminense, ele será barrado. Clube grande? Pode ser. Mas, com um pensamento muito pequeno e provinciano. Enquanto o Fluminense se fecha em dogmas e questões de camisas de clubes (por causa de problemas psicológicos), clubes europeus multiplicam-se cada vez mais com dezenas e centenas de milhões de torcedores pelo mundo. Viva à Itália! Por ter feito este convite ao Fluminense. 
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Heróis da Azzurra - 1934/1938/1982/2006
https://www.youtube.com/watch?v=xTUlktX7aU8 


Hino dos Tricolores

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