sábado, 4 de fevereiro de 2012

"A VOCAÇÃO DO ERRO"

Tomei conhecimento do texto de um jornalista em que mencionava o lançamento do livro “CARIOCA DE 1971: A VERDADEIRA HISTÓRIA DA VITÓRIA DO FLUMINENSE SOBRE A SELEFOGO ALVINEGRA”. Evidentemente, o texto faz menção muito mais ao Campeonato Carioca de 1971 do que propriamente ao livro. Mas de qualquer forma – na qualidade de autor do livro – resolvi fazer algumas observações sobre o tal texto.

O autor do texto é o torcedor botafoguense Fernando Molica jornalista do jornal O Dia. O jornalista ao escrever em sua coluna no jornal demonstra entender sobre diversos assuntos. Mas sobre futebol...

E para fazer algumas observações e correções ao texto do jornalista, tenho que descrevê-lo integralmente. O texto foi publicado no jornal “O Dia”, no dia 07/12/2011. O texto é intitulado: “27/06/1971: O DIA EM QUE CONHECI A INJUSTIÇA”. Pelo visto, no dia da publicação do texto estava faltando notícia na cidade, no Brasil e no mundo. Abaixo o texto na íntegra:



O lançamento de um livro sobre o Campeonato Carioca de 1971 reabriu uma ferida que jamais cicatrizou. Aquele 27 de junho foi o dia em que eu, aos 10 anos de idade, perdi a inocência. Diante da passividade do árbitro do jogo – um sujeito cujo nome até hoje não pronuncio – percebi o que era a injustiça. Ao contrário do que era pregado nos quadrinhos e nos desenhos animados, nem sempre o bem vencia o mal.

O Botafogo era conhecido como ‘Selefogo’, reunia craques que, no ano anterior, haviam sido fundamentais na conquista da Copa do Mundo: Jairzinho, Paulo César, Brito e Carlos Alberto Torres. Havia disparado no campeonato, houve até quem propusesse o fim antecipado da competição, tamanha a vantagem alvinegra. Mas o time caiu de produção, perdeu um jogo e empatou dois. Mesmo assim, seria campeão se ao menos empatasse com o Fluminense.

O jogo seguia 0 a 0 até os 43 minutos do segundo tempo, quando – como dói lembrar – uma bola foi lançada na área do Botafogo, o goleiro Ubirajara Motta pulou para fazer a defesa e recebeu um empurrão escandaloso do Marco Antonio. Livre, Lula não teve trabalho para pegar a sobra e fazer o gol, um gol confirmado pelo inominável juiz. Vale lembrar que o Fluminense, na época, conhecido como o time que melhor atuava no tapetão – referência aos gabinetes dos que dirigiam e julgavam o futebol.

Revi o gol diversas vezes, criança, contava com a possibilidade de ouvir um apito retardatário e salvador, som que restabeleceria a justiça sobre a Terra. Nada. As imagens se repetiam, mostravam o empurrão, a queda do Ubirajara, o chute, o gol. E nada do tal apito. É possível que a ausência do gesto que anularia o gol tenha me preparado para encarar episódios que se sucedem na vida brasileira. Sobras de campanha, desvio de merenda escolar, aprovação da reeleição, compra de votos, superfaturamento em obras públicas, nepotismo, consultorias suspeitas, absolvição de culpados. Não me conformo com nada disso, mas admito que todos fazem parte da mesma lógica que nos tirou o título – as evidências têm valor apenas relativo, o mundo não é justo.

De lá pra cá, o Botafogo já foi prejudicado e beneficiado pela arbitragem, mas nada foi tão marcante quanto aquele escândalo da final do campeonato de 71. A ausência do apito revelou que eu não deveria me espantar com nada, o ser humano era capaz de tudo, não havia lugar para a inocência.



Ao terminar de ler o texto, eu não sabia se ria ou gargalhava. A descrição do texto é pueril e melodramática. E surpreendentemente foi publicado em um jornal de grande circulação da cidade. Entretanto, é compreensível. O autor do texto escreve no jornal. E devia estar faltando assunto na cidade, no país e no mundo, neste dia. Aí, o jornal resolveu transformar a coluna “Estação Carioca” na “TRIBUNA DO CHORORÔ DO TORCEDOR ALVINEGRO”. Porque o texto nada mais é do que o relato de um torcedor de arquibancada disfarçado de jornalista.

O autor começa o texto dizendo que o lançamento do livro reabriu velhas cicatrizes. Mais uma vez eu não sabia se ria ou gargalhava. E continua dizendo, que foi no dia 27 de junho de 1971 que “perdeu a inocência”. Bem, geralmente quando alguém diz que “perdeu a inocência”, outra pessoa costuma perguntar: “Foi bom pra você?” Mas pelo visto é melhor não fazer a pergunta. Doeu, né? Como o autor se recusa a dizer o nome do árbitro, vale lembrar que JOSÉ MARÇAL FILHO foi sugerido e muito elogiado pela diretoria alvinegra quando sua indicação para apitar a final foi confirmada. Se o autor do texto tivesse lido o livro talvez soubesse disso. O autor do texto cita que era pregado nos quadrinhos e nos desenhos animados que o bem sempre vencia o mal. O desenho que ele assistia, devia ser o alvinegro Pato Donald? Então está explicado.

O autor do texto diz que a ‘Selefogo’ reunia craques que, no ano anterior, haviam sido fundamentais na conquista da Copa do Mundo, com Jairzinho, Paulo César, Brito e Carlos Alberto Torres. Correto! Só se esqueceu de dizer no texto que, durante a Copa do Mundo Brito era do Flamengo, Carlos Alberto Torres era do Santos e Paulo César era reserva. Titular que jogava no Botafogo só o Jairzinho. Alguém que não saiba disso pode pensar que os quatro jogadores eram do Botafogo em 1970. E um bom jornalista deve se preocupar com a veracidade dos “fatos”.

O Botafogo realmente havia disparado no campeonato de 1971 (será que o autor do texto conhece a expressão ‘CAVALO PARAGUAIO’?). E também houve quem propusesse o fim antecipado do campeonato. Mas o Fluminense foi contra! Os dirigentes tricolores tinham a firme convicção de que o Botafogo perderia pontos. E que o time das Laranjeiras venceria a equipe de General Severiano na final. E o time alvinegro confirmou a convicção inabalável dos tricolores na conquista do título e seguiu o seu rumo na ladeira. Ninguém segurou a descida da ladeira alvinegra. Coisa triste, hein? Deve ter doído muito mesmo, né?

O autor do texto descreve o lance do gol e diz “como dói lembrar”. Pelo visto a ‘perda da inocência’ provocou profundos traumas psicológicos que ‘só Freud explique’. Talvez um bom psicanalista possa resolver o caso. O autor do texto descreve o lance do gol, mas não cita a falha do goleiro alvinegro. O autor do texto, não só deve ter perdido a inocência como a memória também. A sua versão para os fatos é mais conveniente, né? Cai bem como desculpa. Desculpa esfarrapada, diga-se de passagem! O próprio Paulo César Lima, o “Caju”, em sua autobiografia, reconhece a falha do goleiro Ubirajara Motta no lance. O goleiro alvinegro de baixa estatura, ao invés de ter dado um soco na bola, tentou encaixá-la. Marco Antonio subiu para cabecear, ocorreu o choque entre ambos e a bola sobrou limpa para Lula marcar.

Se Ubirajara socasse a bola, destruiria a ofensiva tricolor mandando-a para bem longe da área. Entretanto, Ubirajara (talvez utilizando a soberba alvinegra) tentou encaixar a bola e falhou no lance. Lula não deixou nem a bola cair no chão e fuzilou para dentro do gol, estufando as redes alvinegras. E provocando uma das maiores explosões de uma torcida em toda a história do Maracanã. Em nenhum momento a regra do futebol diz que o goleiro é intocável. E o juiz José Marçal Filho, quase ao lado de Lula, em cima do lance, acompanhou tudo. E sem titubear, de forma categórica, correu para o meio do campo assinalando o gol legal.

O autor do texto ainda cita que o Fluminense, na época, era conhecido como o time que melhor atuava no tapetão. Correto! O Fluminense contava entre seus quadros com brilhantes homens do Direito, destacando-se dentre eles o renomado José Carlos Vilella. O jornalista só se esqueceu de dizer que quando o Botafogo teve graves problemas, como a tentativa de intervenção do CND (Conselho Nacional de Desportos), recorreu ao conhecimento jurídico de José Carlos Vilella. Faltou competência intelectual lá no clube de General Severiano e tiveram que contratar o inigualável tricolor José Carlos Vilella? Eu sei que dói, mas esta é a realidade dos “fatos”. Mas o jornalista na época era apenas um menino de 10 anos. Se o autor do texto tivesse lido o livro talvez soubesse disso.

Portanto, a tentativa de apregoar ao Fluminense algo ilícito, beira o ridículo e confirma o conteúdo pueril do texto. Porém, se existisse algo de ilícito no futebol do Rio de Janeiro, é bom lembrar que ele era chefiado por um botafoguense de quatro costados: Octávio Pinto Guimarães, presidente da Federação Carioca de Futebol, que teve uma vida inteira ligada ao Botafogo de Futebol e Regatas, desde a infância. Octávio Pinto Guimarães chegou a ser Grande Benemérito do Botafogo. Será que o autor do texto sabe disso? Se o autor do texto tivesse lido o livro talvez soubesse disso.

O autor do texto espera até hoje pelo “apito amigo” salvador que anule o gol de Lula. E diz que a ausência do “apito amigo” tenha lhe preparado para encarar os episódios que se sucedem na vida brasileira. Será? Creio que o jornalista se esqueceu de alguns episódios da vida brasileira.

O jornalista se esqueceu de mencionar o poder nefasto e criminoso dos “banqueiros do jogo do bicho” e das manipulações de resultados de pesquisas eleitorais forjadas por institutos de pesquisa totalmente corrompidos pelo poder político e econômico do país. E falando em “banqueiros do jogo do bicho” é bom lembrar, de um clube que durante os anos 1980 foi apadrinhado por dois destes ‘ilustríssimos senhores’. Será que o autor do texto se lembra disso? Inclusive, um desses ‘ilustríssimos senhores’, no momento está foragido, sendo procurado pela polícia. E título de futebol conquistado com o ‘dinheiro justo e honesto’ do jogo do bicho também deve ser anulado? Se for cuidado. Olha o América aí gente!

O autor do texto menciona que, de lá pra cá, o Botafogo já foi prejudicado e beneficiado pela arbitragem. Mas esqueceu de mencionar aquela ‘mãozinha marota’ do Maurício em 1989. Ou então, da ‘posição privilegiada’ do Túlio Maravilha em 1995. Como o autor já tinha ‘perdido a inocência’ nestas ocasiões ele não reparou na ausência do apito. Afinal, não havia lugar para a inocência, né? Por isso ele não se espantou com nada. O ser humano realmente é capaz de tudo.

O jornalista em seu delirante texto não mencionou diversos episódios daquele “Carioca de 1971”, que levaram o time pelo qual torce a ser fragorosamente derrotado pelo Campeão Brasileiro de futebol de 1970. Por sinal, nos dois confrontos, em 1971, entre a ‘Máquina Tricolor’ e a ‘Selefogo Alvinegra’, o time das Laranjeiras foi amplamente superior nas duas partidas. Mas o jornalista não citou isso no texto. Não foi conveniente, né? O jornalista deveria sentir-se orgulhoso de perder o Campeonato Carioca de 1971 para o time que, naquele momento era o “Campeão Brasileiro” de futebol. E temos vários episódios para citar. E esse foi o principal motivo pelo qual o livro foi escrito. Para esclarecer os “fatos”. E para terminar de uma vez por todas com uma série de asneiras infanto-juvenis descritas e faladas por aí. E esclarecer alguns "fatos" desconhecidos pelas gerações mais jovens. Como diz o dito popular, “errar é humano, persistir no erro é burrice”. E não fui eu que disse quem tem “A VOCAÇÃO DO ERRO”.

Certa vez o ex-presidente do Botafogo Augusto Frederico Schmidit disse: “O BOTAFOGO TEM A VOCAÇÃO DO ERRO”. E desde então, esta frase tornou-se histórica entre os botafoguenses. Se é verdade, eu não sei. Nem quero me intrometer no erro dos outros. Mas ao ler o texto do referido jornalista botafoguense, começo a pensar: “Será que Augusto Frederico Schmidit tinha razão?”

O autor do texto não mencionou a soberba e a empáfia do Botafogo naquele ano de 1971. Não foi conveniente pra ele, né? O time rebolando e dando olé, faltando ao respeito com os adversários em quase todos os jogos. O pênalti “inventado” pelo juiz CARLOS COSTA (“apito amigo?”), que estava muito distante do lance no jogo entre Fluminense e Botafogo em 18 de abril de 1971. Esse pênalti o jornalista não lembrou? Não foi conveniente, né?

Jairzinho ofendendo um zagueiro do Bangu oferecendo grama para ele comer (insinuando que o zagueiro fosse um cavalo). Jairzinho mais preocupado em gravar disco de samba e ser jurado de concurso de miss. Carlos Alberto Torres soltando foguetes no dia da decisão antes do jogo comemorando o título de forma antecipada. A compra de faixas antecipadas, declarações sobre a conquista do título invicto. Paulo César tirando foto antecipadamente com faixa de campeão. São tantos episódios que mereceram um livro para mostrar os “fatos” que ocorreram naquele ano de 1971. E não apenas os ‘delírios de uma criança’ de 10 anos. Se o autor do texto tivesse lido o livro talvez soubesse disso. E pouparia o tempo dos leitores de seu jornal com os delírios de um ‘menino de 10 anos’.

Confesso que, ao ler o texto do jornalista botafoguense, senti saudades do João Saldanha e Armando Nogueira. E me recordei do trecho de um texto do grande jornalista Mário Filho: “O Botafogo nasceu em oposição ao Fluminense. Talvez porque os fundadores do Botafogo, todos rapazes, não teriam lugar no Fluminense. De rapazes que se sentiam meninos diante dos homens feitos, balzaquianos do Fluminense. O Fluminense fazendo questão do bigode, da responsabilidade, do homem feito. O Fluminense não teve infância: nasceu maduro. Com a idade dos que o fundaram. Com a experiência dos que o fundaram, dos que o criaram. Todos homens feitos, de responsabilidade, chefes de firmas, altos funcionários de empresas, homens capazes de organizar um Clube e de mantê-lo dentro de um ideal”. Realmente, não havia lugar para a inocência. Isso é coisa para os meninos, os tolos e os derrotados. E estes – meninos, tolos e derrotados – geralmente são uns “chorões”.

Só espero que o referido jornalista – além da inocência e da memória – também não tenha perdido o espírito esportivo. Pois, ganhar e perder é do jogo. Faz parte! Mas chorar demasiadamente é mais comum na infância. Pelo visto doeu fundo mesmo. Que pena! Portanto, no intuito de amenizar a sua dor, deixo como sugestão a leitura do livro “CARIOCA DE 1971: A VERDADEIRA HISTÓRIA DA VITÓRIA DO FLUMINENSE SOBRE A SELEFOGO ALVINEGRA”. Talvez aí, o referido jornalista possa cair na real e compreender a realidade dos “fatos”. Do contrário, só nos restará, novamente fazer a pergunta: “Será que Augusto Frederico Schmidit tinha razão?”

3 comentários:

  1. Na qualidade de ser humano e (profissionalmente) de educador, desejo manifestar minha indignação quanto às palavras de um jornalista, profissional de um dos meios de comunicação de massa mais respeitados do Rio de janeiro, o jornal O Dia, com uma narração sob o seu olhar, sem que tomasse conhecimento da realidade (ou, ao menos, de uma realidade distinta da sua), ou mesmo, sem que buscasse ou investigasse, para, somente então, veicular aos respeitáveis leitores de seu jornal as passagens que pode o tempo apagar. E sobretudo quero dizer que ainda não sei se este jornalista virá a ler a obra “CARIOCA DE 1971: A VERDADEIRA HISTÓRIA DA VITÓRIA DO FLUMINENSE SOBRE A SELEFOGO ALVINEGRA” e, por conseguinte, rever suas colocações, pois, afinal, talvez seja sua preferência a manutenção da tese: "as evidências têm valor apenas relativo, o mundo não é justo."
    Ener

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    1. Bom dia,
      Conheci esse site recentemente, devido a matéria publicada no fluminenseetc. Estão de parabéns.. muito bom os textos publicados.

      Ainda não li o livro "A VERDADEIRA HISTÓRIA DA VITÓRIA DO FLUMINENSE SOBRE A SELEFOGO ALVINEGRA", mas lembro de ouvir entre os tricolores uma história completamente diferente da relata por esse senhor FERNANDO MOLICA, jornalista do Jornal O DIA.
      Enfim o Jornal O DIA também está adotando a postura do Grupo O GLOBO, ou seja, perseguir o FLUMINENSE, assim como fizeram com o VAsco na década de 90. A única diferença é que o Eurinco Miranda era declarado inimigo da GLOBO, porém isso não acontece com o Sr. Peter, presidente do FLU.
      Por isso sempre digo a amigos e tricolores, não acreditem na verdade imposta pelas grande mídia (GLOBO, LANCE, RECORD, BANDEIRANTES, principalmente), pois existe uma verdade que eles não querem divulgar. Essa verdade que eles querem esconder, não está relacionada apenas no mundo do futebol, mas de uma forma geral em nosso cotidiano, na política, na cultura, etc.
      S T

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  2. Parabéns, Eduardo. Tenho 75 anos, e estava lá nêsse dia maravilhoso. O Maracanã, sempre foi a minha "3a.casa", a 2a.é o nosso FLU, sempre vou aos jogos, e não me lembro de ter visto e sentido o estádio TREMER,na acepção da palavra.
    A arquibancada balançou de verdade. Um forte abraço e continue sua "luta"
    Saudações Tricolores

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