domingo, 5 de dezembro de 2010

O Professor de História Leandro Campinho

Um pouco antes da partida do Fluminense contra o Goiás, ainda nas ruas que cercam o Estádio Olímpico João Havelange, tomava uma cerveja e batia um animado papo com um grande amigo e “fidalgo tricolor”. E não sei por que, de repente meu amigo me perguntou se eu sabia que o Presidente da Torcida Organizada YOUNG-FLU, Leandro Campinho, também era Professor de História. E lhe respondi que não sabia, mas que achava muito interessante. Afinal, o Presidente da maior Torcida Organizada do Fluminense era meu companheiro de profissão.

De imediato, achei aquela informação muito especial. E logo me recordei de inúmeras conversas com o nosso querido “Seu Armando”, onde ele em várias ocasiões me relatava as melhores informações sobre o Campinho. E Seu Armando sempre me dizia: “O CAMPINHO É UM LÍDER! O CAMPINHO É UM LÍDER NATO”!

E na ocasião da partida entre Fluminense e Goiás, após a informação do meu amigo, me aproximei de Leandro Campinho para dizer da minha intenção em trocar algumas palavras com ele sobre o seu lado de Historiador. Eu via a possibilidade de levar algumas informações sobre a vida do Presidente da Torcida Organizada YOUNG-FLU que muitos tricolores desconhecem.

Seria uma forma de desmitificar certos preconceitos existentes contra todos aqueles que se participam de Torcidas Organizadas. Peguei o telefone de Leandro Campinho para marcarmos um encontro. Mas, não foi preciso. Encontrei-o na sede do Fluminense, exatamente num dia em que estava municiado com meu velho gravador de guerra. Era uma quinta-feira, mais precisamente no dia 24 de novembro. Então, nos dirigimos para a arquibancada social do Estádio das Laranjeiras. Não poderia ter escolhido local melhor para uma conversa entre dois tricolores, do que o histórico Estádio das Laranjeiras.



Blog “CIDADÃO FLUMINENSE”: Campinho?

LEANDRO CAMPINHO: Isso, isso, Campinho.

Blog “CIDADÃO FLUMINENSE”: Seu nome todo é...

LEANDRO CAMPINHO: Leandro de Carvalho Moraes.

Blog “CIDADÃO FLUMINENSE”: Qual é a sua idade?

LEANDRO CAMPINHO: 31. (Trinta e um).

Blog “CIDADÃO FLUMINENSE”: Sempre Fluminense?

LEANDRO CAMPINHO: Sempre. Minha vida inteira sempre Fluminense. Já é de raiz. Já é de família.

Blog “CIDADÃO FLUMINENSE”: Por que Fluminense?

LEANDRO CAMPINHO: O Fluminense... Meu pai era vascaíno. Mas, minha mãe sempre torceu para o Fluminense. E o restante da família são tricolores. E por isso as minhas origens são tricolores. E vou estar sempre torcendo para o Fluminense.

Blog “CIDADÃO FLUMINENSE”: Nasceu e foi criado aonde?

LEANDRO CAMPINHO: Nascido e criado na terra do samba. Nada melhor que do que ser nascido e criado na terra do samba em Madureira. Eu sou ‘cria’ de Madureira. E o bairro muito próximo, que é o bairro do Campinho, que é aí a origem do meu apelido.

Blog “CIDADÃO FLUMINENSE”: Portela ou Império Serrano?

LEANDRO CAMPINHO: Há, Há, Há... Aí é complicado. Portela é uma escola de samba... Apesar de ter bastante tricolor na Portela é uma escola de samba que eu particularmente não curto muito. O Império Serrano é uma escola de samba que tem bastante baluartes do samba carioca. Já é uma escola que eu tenho simpatia por ter tido algumas pessoas que fizeram parte da escola. Mas na verdade, a minha escola de samba hoje é Vila Isabel. E o meu bloco é Tradição.

Blog “CIDADÃO FLUMINENSE": Jogava bola? Joga bola?

LEANDRO CAMPINHO: Há, Há, Há... Jogava bola, não. Eu sempre joguei muito. Sempre joguei muito. Pra te falar, o meu pai era vascaíno, ele jogou algum tempo no Vasco. E eu também tive uma breve passagem pelo Vasco. Joguei futsal pelo Vasco. E joguei também na escolinha do Vasco. Inclusive por algum tempo fui sócio-atleta do Vasco. Mas essa mancha eu não tenho mais.

Blog “CIDADÃO FLUMINENSE”: Até chegar na Young-Flu como era a sua vida de torcedor?

LEANDRO CAMPINHO: Nossa... A minha vida de torcedor se mistura com a Young-Flu. Porque eu não consigo me ver, eu não tenho lembranças minhas sem ser junto com a Young-Flu. Aqui, olhando para este estádio, eu me vejo molecote correndo nesse gramado aí, ajudando a pintar bandeira, ajudando a cortar bambu, sempre. Então, minha vida como torcedor antes da Young-Flu não existiu.

Blog “CIDADÃO FLUMINENSE”: Quando foi o seu ingresso na Young-Flu? Fale um pouco da sua história na Young-Flu. Quando você foi Presidente pela primeira vez?

LEANDRO CAMPINHO: Há, Há... É engraçado. Eu tinha um primo que fazia parte da Torcida Jovem do Botafogo. Ele era mais velho. Era um primo amigaço da família. E ele falava para a minha mãe que torcida organizada era muito violenta, para não deixar eu fazer parte. E eu consegui no dia do meu aniversário de 13 anos fazer a carteirinha da Young-Flu. Foi o presente que eu ganhei, a carteirinha da Young-Flu. E a partir daí eu comecei a freqüentar. Porém, a minha mãe falava o seguinte: “Você pode ir para os jogos com os seus amigos, mas não pode ficar na Young-Flu. Você tem que ficar na Super Flu”. Aí, eu falava pra minha mãe: “Tá mãe, eu vou pra Super Flu”. Mas quando eu chegava, via aquele mundo branco, aquela torcida vibrante cantando... Eu fugia da Super Flu e ia pra Young-Flu.

Blog “CIDADÃO FLUMINENSE”: E quando você chegou à presidência na Young-Flu?

LEANDRO CAMPINHO: É curioso. Na época eu tinha 19 anos a primeira vez, 19 para 20 anos. Estava cursando Direito ainda. Fazia faculdade de Direito. Foi uma época de mudanças nas torcidas do Rio de Janeiro. Foi uma época em que os dinossauros das torcidas organizadas estavam com o seu ciclo encerrando nas torcidas. E aquela galera que eu já vinha ali junto desde os 12, 13, 14 anos, estava começando a ter uma ascensão dentro das torcidas organizadas. Em momento algum meu pensamento era ser presidente da torcida. Até porque eu nunca fui nem diretor. Eu nunca tinha sido nem diretor. Não tinha feito aquele estágio, de primeiro ser diretor disso, daquilo, para depois chegar a presidente. Aí nesse momento, nesse ínterim, o presidente por problemas particulares teve que sair. Eu fiz um mandato-tampão como Vice-Presidente. E na próxima eleição eu já estava saindo. Pois eu já estava começando a estagiar no Direito e etc. Eu já não queria aquilo pra mim. Estava com 20 anos. Mas a pressão foi muito grande. As melhorias na torcida. Já que a nossa galera tinha ideários inovadores, a pressão foi muito grande. E eu me tornei presidente pela primeira vez na Young-Flu, eleito.

Blog “CIDADÃO FLUMINENSE”: Isso em que ano?

LEANDRO CAMPINHO: Nossa... 1999 se eu não me engano.

Blog “CIDADÃO FLUMINENSE”: Um ídolo do Fluminense?

LEANDRO CAMPINHO: Assis.

Blog “CIDADÃO FLUMINENSE”: Um jogo inesquecível?

LEANDRO CAMPINHO: Um jogo inesquecível... São inúmeros jogos inesquecíveis. Mas vou falar de dois. O de 1995, aquele gol de barriga do Renato é algo que é surreal pra mim até hoje. Eu nunca vou esquecer de ver vários amigos na arquibancada todos chorando depois do gol de empate do Flamengo. E daqui há pouco a gente saiu daquele estado de estagnação da arquibancada, para uma euforia plena e inigualável naquele momento do gol do Renato. Então para mim este é um dos momentos inesquecíveis. Só um adendo em relação a isso, é que aquele gol pra mim tinha que ser do Ézio e não do Renato. E o segundo jogo que pra mim não sai da minha cabeça foi o jogo Fluminense e Boca Juniors na Argentina.

Blog “CIDADÃO FLUMINENSE”: Seu Armando?

LEANDRO CAMPINHO: Isso é um pai cara. É difícil de falar do Seu Armando. Falar do Seu Armando é... A gente chegava no Maracanã pra guardar material, chegava no galpão do Seu Armando pra ver o material da torcida. E ele sempre tratou a gente como um pai. Sempre exigia da gente: “Pô, vocês tem que fazer as coisas. Não fica aqui em torcida, não”. Não sei o que lá. Queria ver o boletim da galera. Entendeu? Coibia se alguém consumisse drogas ou álcool. Tudo isso ele impedia. Então, ele fazia praticamente a função de um pai. E é nele que eu me espelho. E é dessa forma que a gente vem conduzindo a Young-Flu hoje.

Blog “CIDADÃO FLUMINENSE”: Fale um pouco sobre a sua vida como estudante, os cursos que você fez e o que faz.

LEANDRO CAMPINHO: É meio complicado porque eu já fiz três cursos diferentes. Comecei fazendo Direito, mais por pressão familiar mesmo e tal. Pela questão da família, de já ter advogados dentro da família. Então, comecei fazendo Direito. Aí, de repente percebi que não era aquilo ali que eu queria. E comecei a fazer Fisioterapia. Uma coisa nada a ver com a outra. Aí, fiz faculdade de Fisioterapia. E por fim, acabei me achando na faculdade de História. É a faculdade que eu curto. É a faculdade que eu curto. Adoro lecionar. Adoro dar aula. Adoro pesquisar. E em breve terão alguns livros aí.

Blog “CIDADÃO FLUMINENSE”: Você está cursando, já terminou? Como é que está seu envolvimento com a História?

LEANDRO CAMPINHO: Estou no último período.

Blog “CIDADÃO FLUMINENSE”: Então, você vai se formar em breve?

LEANDRO CAMPINHO: Em breve. Em breve.

Blog “CIDADÃO FLUMINENSE”: Será o Professor Campinho?

LEANDRO CAMPINHO: Já sou né. Já dou aulas há dois anos.

Blog “CIDADÃO FLUMINENSE”: Você está dando aulas aonde?

LEANDRO CAMPINHO: Dou aulas em colégios na Tijuca e Niterói.

Blog “CIDADÃO FLUMINENSE”: Por que História?

LEANDRO CAMPINHO: Cara, História eu comecei pelo filmes. Eu gosto muito de ver filmes épicos. Filmes de guerreiros, filmes de combates. A História Medieval ela me encanta muito, além da História Antiga, como Tróia, como Coração Valente... Depois outros filmes mais novos. Todos esses filmes que você tem uma personificação do guerreiro ou a personificação do herói. Todos esses filmes muito me encantaram. E a partir daí, eu comecei a fazer uma discussão em cima disso. E comecei a procurar ler, a procurar me aprofundar mais nessa área. E por aí eu falei: “Putz, cara, eu gosto muito disso. Então, vou mais a fundo”. E entrei na faculdade de História. “Ah, vou fazer um semestre na faculdade de História”. E nesse semestre que eu comecei a fazer. Pô, eu fiquei muito encantado. Fiquei realmente encantado. E passei a estudar com mais afinco. E hoje, estou graças a Deus concluindo minha faculdade.

Blog “CIDADÃO FLUMINENSE”: E você acredita que através da História, do conhecimento da História, a gente pode construir e transformar o Brasil?

LEANDRO CAMPINHO: Cara, não só do conhecimento da História. Eu acho que a educação é vital para mudança do nosso país. É muito fácil você culpar e você falar mal de determinados segmentos da sociedade. E quando você percebe que essa galera acaba não tem educação. Quando você percebe que essa galera acaba tendo como seu primeiro refúgio as drogas, as armas o alcoolismo. Então, todas essas problemáticas a gente poderia, sim, estar revertendo através da educação, através do esporte. Então eu acho que as políticas públicas deveriam ser voltadas para esse segmento da população. E a gente não consegue observar isso. Isso é muito ruim. Para mim na questão de educador, além de ser uma liderança, de ter uma liderança dentro de uma torcida, eu também sou um educador. E é muito ruim você ver aqueles jovens, aqueles adolescentes que estão meio perdidos. Você vê que eles não têm base em casa. E eles tentam buscar isso nas instituições de ensino e se vêem carentes por aí. Então, eu acho que o esporte e a educação deveriam ser... Principalmente a educação, deveria ser melhor vista pelos governos.

Blog “CIDADÃO FLUMINENSE”: Falando em História, o nosso Clube, o Fluminense tem uma História muito bonita que é interessante a gente passar para a juventude, não?

LEANDRO CAMPINHO: O Fluminense é o... A gente aqui nesse estádio, não tem um estádio com uma história tão grande como o nosso estádio. Ele deveria ser sempre cultuado. As Laranjeiras têm que ser cultuada sempre. As cores do Fluminense têm que ser cultuadas sempre. A nossa Sala de Troféus têm que ser valorizada. É o que a gente tem. Isso aqui é o que a gente tem. E além de ser nosso, do Tricolor, do Torcedor do Fluminense, é da população do Rio de Janeiro. É do Brasil! A história do nosso Clube é muito grande. E eu acho que nós como Historiadores, devemos sim, estar sempre incentivando e sempre relembrando os fatos e os feitos ocorridos aqui.

3 comentários:

  1. muito boa a sua entrevista Eduardo Coelho , mostra o lado cidadão de um presidente de uma torcida organizada ...

    muitos acham ( essa nunca foi a minha opinião ) que todos os membros das T.O são vagabundos , arruaçeiros e só vive as custas dos clubes ...

    off : queria a sua opinião sobre o resultado das eleições , principalmente sobre o fato da chapa novo fluminense ter feito o conselho inteiro , e se isso te preocupa .....
    a mim me preocupa , é sempre bom ter uma oposição fiscalizando e atuando ...

    saudações tricolores !!! seremos campeões !!!

    Leandro Ferreira Moratti

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  2. Fluminense pra sempre!!!
    carolina azeredo costa,te amo !

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  3. Entrevista muito interessante e com a capacidade de desmistificar estereótipos!

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