Portanto, para enriquecer o trabalho acadêmico seria de fundamental importância visitar o estádio "La Bombonera" e realizar a pesquisa de campo. E lá estive durante os dias 24, 25 e 26 de agosto de 2011. Afinal, "não basta emoção, tem que rolar ação".
Painel sobre a história do bairro de "La Boca"
Do ponto de vista acadêmico, não há estudos ainda sobre esse assunto, o que dá a essa pesquisa um pioneirismo. Do ponto de vista do mercado, as perspectivas de viabilidade também são interessantes, embora a viabilidade de que se ocupa esse trabalho não tenha a ver diretamente com cálculos contábeis. Esse estudo considera que ocupar-se de tais cálculos é uma etapa posterior à verificação da primeira viabilidade que importa: a credibilidade e legitimidade junto aos públicos internos e externos diretamente implicados na proposta.
A "mítica La Bombonera"
Uma nova tendência é a exploração do patrimônio cultural dos clubes, isto é, da história que é a verdadeira sustentação da marca. No mundo, há exemplos bem sucedidos, cuja estratégia está fisicamente associada à sede do clube – o quartel general da história do clube –, que passa a ser explorada cultural e até turisticamente.
A proximidade do campo com a "hincha" de Boca
Estabelecendo-se no Fluminense o serviço de visitação turística ao Estádio das Laranjeiras, é possível receber visitantes que não sejam necessariamente fãs de futebol; podem se tornar simpatizantes do Fluminense na medida em que possam ter a oportunidade de conhecer a vastíssima história do “Tricolor das Laranjeiras”. O serviço de visitação turística no Fluminense – sede e estádio – poderá possibilitar um ganho institucional para o clube.
A vinícola do restaurante e seu cartaz escrito em 'português'
A América Latina é a realidade mais próxima de nós também nesses termos, então buscamos um país vizinho, também reconhecido mundialmente pelo talento e paixão em futebol. O breve estudo comparativo com o estádio La Bombonera do Club Atlético Boca Juniors, é devido ao serviço que se destaca como a experiência mais bem sucedida de toda a América Latina em termos de exploração turística de um equipamento esportivo em uma localidade urbana.
A história do bairro de La Boca começa com a chegada do primeiro chefe militar don Pedro de Mendoza em 1536. Algumas teorias, como a que sustenta o historiador Paul Groussac, asseguram que as imediações do rio conhecido desde então como Riachuelo, se estabeleceu o primeiro Forte que deu origem a cidade de Buenos Aires. Se bem que não existe nenhum documento convincente a esse respeito. O certo é que Pedro de Mendoza e seus subordinados andaram pela região, uma zona pantanosa e cheia de árvores. Aquele assentamento foi abandonado em poucos anos. E quando don Juan de Garay fundou a Cidade em 1580, o único refúgio que oferecia aos navios continuava sendo o Riachuelo, por esse motivo ali se estabeleceu o porto.
Durante muito tempo, La Boca – que deve seu nome a entrada do Riachuelo – foi um subúrbio povoado de ranchos e tabernas. Em meados do século XIX começou a aumentar o movimento de barcos e surgiu um bairro marítimo em torno do porto, onde se aglutinaram estaleiros, silos, salgadeiras, curtumes e depósitos de lã e carvão. Numerosos imigrantes italianos escolheram este lugar para estabelecer-se, pelas possibilidades profissionais que o porto oferecia. Construiam suas casas de madeira e chapa, sobre estacas compridas, para fazer frente as enchentes do Riachuelo, e esmolavam os restantes de pinturas em estaleiros para colorir as paredes. Também chegaram boêmios, pintores, escultores, músicos e cantores. Assim surgiu este bairro pitoresco, cheio de vida, que imortalizou a palheta do artista Benito Quinquela Martin
O estádio, chamado “La Bombonera” devido a sua forma e pavimentos superpostos, que se assemelham a uma caixa de bombons, pertence a um dos clubes mais populares da República Argentina. O Club Atlético Boca Juniors foi fundado em 1905 por um grupo de jovens entusiastas que, não sabiam com que cores escolheriam sua camisa. E decidiram escolher as cores do primeiro navio que riscou as águas do Riachuelo. O primeiro a pasar foi um navio de origem sueca. E assim, surgiram o azul e amarelo que caracterizam a equipe xeneize.
O estádio “La Bombonera”, com capacidade para 50.000 espectadores, foi inaugurado em 1940. Com uma estrutura em forma de ferradura, três bandejas superpostas e um ângulo de inclinação muito alto. Os escasos metros que separam o campo de jogo das tribunas permitem uma grande proximidade entre os espectadores e o jogo. Em suas instalações se praticam uma ampla variedade de disciplinas esportivas. Ademais, o clube conta com uma biblioteca com mais de 20.000 volumes e salões de ações onde se realizam atividades culturais.
Taças das Libertadores e Mundiais conquistadas pelo Boca
Em sua fachada exterior se destacam murais realizados pelos célebres artistas plásticos Pérez Celis e Rómulo Macció. E no interior, um grande mural de Benito Quinquela Martin, que ilustra diferentes postais da vida e personagens do clube e do bairro. As pinturas retratam a paixão dos torcedores (“hinchas”) do Boca, bem como aspectos da vida do bairro de La Boca, como o cotidiano dos imigrantes italianos.
A vinícola do restaurante "1905"
A visitação ao estádio “La Bombonera” faz parte do circuito turístico da cidade de Buenos Aires. O serviço de micros turísticos de Buenos Aires funciona desde 23 de abril de 2009. Os coletivos com capacidade para 50 pessoas sentadas, contam com guia especializado em turismo portenho. Os veículos – de dois pisos e sem teto no piso superior – estão decorados com dez motivos gráficos que representam alguns dos atrativos mais importantes da cidade: o tango, os esportes, os livros, a arte e o desenho, entre outros. Vale ressaltar que Buenos Aires foi escolhida para ser a “Capital Mundial do Livro” em 2011 (até abril de 2012) pela Organização da ONU para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco)
O serviço de visitação do Estádio La Bombonera conta com uma ótima relação da comunidade do bairro La Boca – onde se localiza o estádio – e com o Clube portenho, uma empresa distinta. A inauguração do Museo de la Pasion Boquense ocorreu em 3 de abril de 2001, na gestão de Mauricio Macri, que foi presidente do Boca Juniors de 1996 a 2006. É clara a relação entre futebol e popularidade política: em 2007, Mauricio Macri tornou-se prefeito de Buenos Aires.
Carlitos Tévez comemora gol contra o rival River Plate
Em 2011, Mauricio Macri foi reeleito prefeito de Buenos Aires. No bairro La Boca existem várias lojas que comercializam produtos voltados para turistas, aproveitando-se do fluxo de visitantes ao Estádio La Bombonera, incluindo aí, é claro, produtos não oficiais do Boca Juniors.
Visão central do 2º andar do "Museo de La Pasion Boquense"
Na pesquisa de campo no Club Atlético Boca Juniors foram realizadas entrevistas com os responsáveis pelo serviço de visitação. Um dos entrevistados foi Leonardo Fel, gerente do Museo de La Pasion Boquense. Outro entrevistado foi Sebastián Giani, gerente Comercial de Marketing do Club Atlético Boca Juniors.
Segundo os entrevistados, 80% dos turistas do Estádio La Bombonera e do Museo de la Pasion Boquense são brasileiros. Aos domingos, as famílias argentinas visitam o Estádio La Bombonera, quando não tem jogo. Nos domingos de jogos não é realizada a visitação. É permitida a entrada de torcedores de outros países com a camisa de seus clubes.
Na visitação ao Museo de La Pasion Boquense, o visitante passa por várias etapas. A primeira onde existe a loja que comercializa os produtos do Boca Juniors encontra-se a bilheteria dos ingressos para a entrada no Museu e informações. No segundo ponto da visitação, denominado “os protagonistas”, pode-se observar fotos de todos os jogadores que, ao menos por uma vez, defenderam a ‘azul e ouro’ em partidas oficiais da primeira divisão desde 1931.
Diego Armando Maradona - "Gênio e Paixão"
No terceiro ponto, denominado “os fundadores da paixão”, uma parede de “La Bombonera” é dedicada aos homens que integraram a primeira Comissão Diretiva do Clube e assim começaram a escrever sua história. Abaixo, sob os lendários apelidos, se escrevem os nomes de cada um dos Sócios Fundadores do Museo de la Pasion Boquense.
Martín Palermo - "o maior goleador da história do Boca"
No quarto ponto, denominado “a paixão”, é exibido um filme em 360 graus que levará o visitante a viver o sentimento de um jogador ao pisar no gramado. Uma experiência envolvente de imagem e som.
Painel com o histórico dos títulos conquistados pelo Boca
No quinto ponto, denominado “a camisa”, o visitante observa os diversos modelos de camisas que o Boca brilhou ao longo de um século. No sexto ponto, denominado “o bairro”, o visitante admira um espetáculo de luz, imagens e sons, que reproduzem o Bairro La Boca, suas ruas e casas multicoloridas. No sétimo ponto, existe o “acesso ao estádio”.
Uma das opções existentes que se tem na visitação é tirar uma fotografia no gramado (fora do campo) com uma réplica da Taça Libertadores da América. Existem muitas bandeiras de clubes brasileiros, incluindo o Fluminense, para os visitantes brasileiros, grande maioria no estádio, poderem utilizar no momento da foto. A foto custa 25 pesos.
O oitavo ponto de visitação é denominado “Boca no terceiro milênio”. O Boca entra no terceiro milênio com uma exposição única. Uma nova e sensacional atração dedicada as mais recentes conquistas do Boca. No nono ponto de visitação é exibido um “filme panorâmico”. No décimo ponto de visitação, denominado “os diretores técnicos”, é uma homenagem a todos os treinadores que conduziram a equipe do Boca Juniors.
Recentes conquistas da Taça Libertadores
No décimo primeiro ponto de visitação, denominado “os ídolos”, é um auditório onde as imagens imortalizam aos futebolistas eternos. Ali se apresenta em forma contínua um espetáculo audiovisual com os ídolos mais importantes da história do Boca.
Equipe do Boca Juniors de 1925
No décimo segundo ponto de visitação, denominado “o plantel atual”, é um tributo aqueles que de domingo a domingo seguem escrevendo uma história “azul e ouro”, a história do clube mais importante da Argentina. No décimo terceiro ponto de visitação, denominado “os campeonatos”, uma gigantesca instalação de 72 monitores com imagens sem fim e vídeo digital que narram os momentos mais destacados da equipe em seu caminho ao título ao longo do século XX. Os acontecimentos mais importantes que ocorreram no mundo e os feitos mais destacados na Argentina no mesmo período.
O plantel do Boca Juniors de 2011
No décimo quarto ponto de visitação, denominado “a glória”, o visitante pode observar a exibição das mais importantes copas e troféus obtidos pela instituição, documentos históricos, indumentária e recordações que pertenceram aos grandes e eternos ídolos. No décimo quinto ponto de visitação, denominado “tributo a Diego Maradona”, é uma homenagem gigantesca a Diego Armando Maradona.
Boca Juniors campeão argentino de 1930
O décimo sexto ponto de visitação é o local onde são comercializados roupas e produtos diversos envolvendo a história do Boca: a loja, no final da visitação, coincide com a entrada no complexo, gratuita e voltada diretamente para a rua, pois nem todos os turistas fazem o roteiro pago, mas todos podem investir na compra de determinados itens.
No primeiro piso do Estádio La Bombonera encontra-se o “1905”, restaurante do Club Atlético Boca Juniors cujo nome é uma referência ao ano de fundação do clube. O "1905" está ambientado com objetos de valor sentimental para os torcedores. O restaurante 1905 oferece pratos e bebidas diversas. O turista pode escolher entre: a cafeteria, batidas, bebidas sem álcool, sanduíches, tortas caseiras e empadas, pizzas, saladas, cozidos, pratos especiais, massas, bebidas argentinas e importadas, cervejas, aperitivos, whiskys, drinks.
O restaurante 1905 tem 350 lugares. Possui seis televisores de LCD com imagem de alta definição e uma adega de vinhos de primeiro nível com serviços de degustação e venda ao público. O espaço reúne muitas marcas de vinho, mas oferece uma marca própria, que pode ser comprada como lembrança, presente, etc.
A grande presença de visitantes brasileiros explica que seja exibido um cartaz em português. O cartaz diz que o turista pode visitar o estádio e o museu tranquilo: caso queira comprar algum vinho, ele será entregue no hotel do visitante.
O restaurante 1905 pode ser contratado mensalmente para a realização de eventos corporativos e festas. O restaurante 1905 possui local disponível no salão para fumantes e não fumantes. É proibida a venda de bebidas alcoólicas para menores de 18 anos e a sua permanência após as 22 horas. Os sócios do Boca Juniors tem direito a 10% de desconto no restaurante 1905.
Fotos dos jogadores do Boca
O Museo de la Pasion Boquense é uma parte fundamental do negócio do 1905, já que tem uma afluência em cerca de 1.000 pessoas por dia. Muitos torcedores realizam seus sonhos de casar e celebrarem seus aniversários no Estádio La Bombonera.
Os nomes das "estrelas xeneizes"
Entrada da visitação do "Museo de La Pasion Boquense"
A empresa que realiza o serviço de fotografias com a réplica da Taça Libertadores da América é independente da empresa que administra o museu, do restaurante do museu e da vinícola que comercializa vinhos ao lado do restaurante. Todos estes serviços diversos são realizados por empresas diferentes.
E ainda existe uma visitação guiada ao estádio onde são narradas curiosidades sobre La Bombonera e o Boca Juniors. Esta visitação guiada faz parte do serviço do museu.
O cotidiano do bairro de "La Boca" retratado nos murais
Em nossa pesquisa, perguntamos aos sócios do Fluminense: “você já visitou algum museu esportivo de um clube?” De 96 pessoas entrevistadas, a resposta imediata de 50 pessoas foi 'não'. E a resposta imediata de 39 pessoas foi 'sim'.
A imponência de "La Bombonera"
Mural artístico
Alguns museus citados que tenham sido visitados pelos entrevistados: Boca Juniors 16 vezes; Barcelona 9 vezes; Real Madri 7 vezes; River Plate 5 vezes; Vasco da Gama 3 vezes; Botafogo 3 vezes; Santos 3 vezes; Flamengo 2 vezes; Corinthians 2 vezes; São Paulo 2 vezes; Coritiba uma vez; Internacional uma vez; Atlético Paranaense uma vez; Grêmio uma vez; Palmeiras uma vez; Benfica uma vez; Porto uma vez; Sporting uma vez; Boston Celtics uma vez; Argentino Juniors uma vez; Celtic uma vez; Ajax uma vez; Chicago Bulls uma vez; Liverpool uma vez; Internazionale uma vez; Milan uma vez; Chelsea uma vez; América do México uma vez.
Mural artístico
"La Bombonera"
E na pergunta “você acha que o Estádio das Laranjeiras deve ser visitado por turistas”, das 96 pessoas entrevistadas, 93 pessoas responderam 'sim'. Duas pessoas responderam 'indiferente'. E uma pessoa respondeu 'não'.
Na pergunta “você sentiria orgulho em ver o Estádio das Laranjeiras ser visitado por turistas”, das 96 pessoas entrevistadas, 94 pessoas responderam 'sim'. Apenas duas pessoas responderam 'indiferente'. E nenhuma pessoa respondeu 'não'.
Na pergunta “você acha que a visitação turística do Estádio das Laranjeiras seria uma forma de tornar o Fluminense mais conhecido internacionalmente”, das 96 pessoas entrevistas, 93 pessoas responderam que 'sim'. Apenas três pessoas responderam 'indiferente'. E nenhuma pessoa respondeu 'não'.
Desenvolver um serviço de visitação turística à sua sede e estádio, não significa para o Fluminense, apenas preocupar-se com a aquisição de novas receitas, o que já será muito importante. Mas fundamentalmente, também com o fortalecimento da instituição. E a propagação de sua história e marca internacionalmente.
Mural artístico
Alguns clubes do exterior possuem uma intensa e estreita ligação com a sua história e seus antigos ídolos esportivos. Esperamos com este trabalho nos aproximarmos das relações destes clubes que nos servem de exemplo.
Fantástica toda essa essa estrutura;
ResponderExcluirDois séculos a nossa frente, é a triste constatação;
Mas show de bola mesmo, é a Elianita, né não...
ST
Zalu
Depois de um tempinho, volto ao espaço e me deparo com esse post sensacional. Parabéns, espero que tenha visitado o Museu do River, esse sim, para mim, um exemplo a ser seguido caso toda a sede social seja um espaço de visitação histórica do Fluminense.
ResponderExcluirSaudações Tricolores!
Cadu