terça-feira, 7 de julho de 2009

Não era tão tricolor como agora

Desculpem-me pela demora na escrita. É que foi muito difícil escrever sobre isso... Mas, vamos lá! Ao menos tentar. As idéias se confundiam e um sentimento de profunda tristeza insistia em se aproximar. Na última semana completou um ano do dia em que deixamos de conquistar a Taça Libertadores da América de 2008.

Durante toda a minha vida, sonhei com este momento glorioso, o de ser "Campeão da Taça Libertadores da América". Durante toda a minha vida, resisti bravamente as inúmeras tentativas do meu bom e saudoso pai, em transformar-me num "vascaíno". Descendente de portugueses pelo lado paterno, a pressão era enorme para que me bandeasse para os lados do "Almirante". Mas, não! Resisti de maneira forte e resoluta. Uma verdadeira resistência "guerrilheira". Mas, nem tudo estava perdido! Existia o outro lado da moeda, ou seja, a "Famiglia Cicchelli". Era a minha família materna, toda italiana, toda calabresa, toda Fluminense, "tutti buona gente".

No momento final, quando Washington perdeu sua cobrança de pênalti, parecia que "o mundo tinha acabado". Uma das piores sensações de toda a minha vida. Parafraseando o nosso técnico Renato Gaúcho, naquela memorável campanha: "- Depois da morte do meu pai, este é o pior momento da minha vida"!

Depositei muitas esperanças desde o início do campeonato naquela conquista, tanto que me obrigava em acompanhar o Fluminense em suas partidas fora do Brasil. Porém, meus compromissos com pesquisas históricas futebolísticas iam adiando minhas viagens. Mas, após a retumbante vitória sobre o poderoso São Paulo (e que vitória!), pensei: "Buenos Aires, lá vou eu"! E também fiz algo que, já pensava há tempos: comprar uma enorme "bandeira oficial do Brasil". Seria minha forma de contribuir para aumentar a beleza de nossa torcida fantástica e ao mesmo tempo, conseguir mais simpatizantes para a nossa conquista em todo país. Acreditava que, com uma enorme bandeira brasileira nas arquibancadas, poderíamos atrair cada vez mais a simpatia do povo brasileiro para o Fluminense. Após a vitória sobre o São Paulo, tinha duas certezas, comprar a bandeira do Brasil e ir para a Argentina.

Negociei e chegamos a um bom termo no trabalho, para que pudesse repor a carga horária posteriormente, deste período em que estivesse viajando. Inaugurei a bandeira do Brasil de 4m x 3m, nesta viagem para o jogo contra o Boca Juniors. Estava um pouco receoso em relação a bandeira, devido a intensa rivalidade entre Brasil e Argentina. Os momentos que vivemos em Buenos Aires, foram maravilhosos, fantásticos e épicos. Nunca mais sairão de minha memória, no cair do crepúsculo, após o longo almoço, numa churrascaria próxima do hotel do Fluminense. Fomos os primeiros a chegar no hotel do Fluminense e aos poucos foram se juntando cada vez mais tricolores. Desfraldamos a bandeira brasileira e surgiram muitas outras tricolores. E aí começamos a cantar e a pular feito uns loucos e alucinados, para incentivarmos o time do Fluminense e mostrarmos a força da torcida tricolor. Éramos 3.000 tricolores em Buenos Aires. E nem o frio de "zero graus" da capital argentina diminuiria o nosso ânimo. Estávamos numa verdadeira guerra Brasil-Argentina. Era mais do que nunca um sentimento de "faca nos dentes". Foi de arrepiar!

Quando vencemos o Boca Juniors no Maracanã, a confiança era total. E após o apito final daquela partida, que vencemos os argentinos por 3 a 1 de virada, estava pendurado na grade onde se localizam as faixas das organizadas, balançando "alucinadamente" a bandeira do Brasil, junto com meu primo Cláudio, também "tricolor fanático" que acompanhou-me em Buenos Aires. Estávamos na "Final da Libertadores"!

Como sempre fui um "disciplinado discípulo" de Nelson Rodrigues, sempre tive comigo um pensamento clássico do "ideário futebolístico rodrigueano", que era: "Vamos calçar as sandálias da humildade". Tudo bem, mesmo "humildes", éramos super confiantes. E com tamanha confiança, meu novo destino só poderia ser mesmo a cidade de Quito, a capital do Equador. Na conquista da Copa do Brasil, em 2007, teria dito uma frase para alguns amigos, que seria repetida de forma bem humorada por eles: "A CORDILHEIRA DOS ANDES SERÁ PEQUENA PARA NÓS TRICOLORES. NÓS VAMOS CONQUISTAR A CORDILHEIRA DOS ANDES"! O sonho estava cada vez mais próximo de tornar-se realidade.

Logo quando chegamos em Quito, fizemos a maior festa, despertando atenção dos repórteres das TV's brasileiras. Cantamos e pulamos durante cerca de cinco minutos. E vários tricolores de nosso grupo, podiam perceber que, ali a história seria bem diferente. Imediatamente, alguns companheiros já podiam sentir os primeiros sintomas dos "efeitos da altitude". Devido ao esforço físico pelo excesso de empolgação, alguns já sentiam dores de cabeça, falta de ar e a boca seca. Incluindo eu, que apelei para o meu estoque de "Tylenol". Resolvemos parar com a euforia para pouparmos nossas energias.

Nosso hotel ficava na mesma avenida do hotel do Fluminense, cerca de 4 ou 5 quadras de distância. No dia do jogo, logo que finalizamos o café fomos para a rua. A recepção do povo equatoriano foi a melhor possível. Evidentemente, rolava uma gozação aqui, outra acolá, mas tudo dentro do normal. Fomos para a porta do hotel do Fluminense. Desfraldamos a bandeira do Brasil e iamos cantando. Na chegada ao hotel, metade de nosso grupo conseguiu entrar e a outra metade, não. Na metade que foi barrada, eu me encontrava. Passados alguns minutos, fomos tentar entrar pelos fundos do hotel. Enfim, todos estávamos dentro do hotel do Fluminense em compahia dos principais jornalistas e repórteres das TV's do Brasil. Mas, um segurança do hotel "cismou" justamente comigo, dizendo que teria que me retirar. Tentei argumentar com ele que, estava com o restante do grupo. Mas, ele estava irredutível e insistia com minha saída. Mais uma vez tentei argumentar, perguntando-lhe porque só eu teria que sair, se tinham muitas pessoas no interior do hotel. Mais uma vez irredutível, ele não quis saber de minhas ponderações. Como não tinha viajado para me aborrecer e nem queria causar maiores problemas nos momentos que antecediam nossa grande decisão, sai do hotel. Aborrecido, mas saí. Enquanto isso, alguns amigos ficavam rindo timidamente numa clara intenção de me gozarem pela falta de sorte. Mas, eu não estava nem aí, queria era ver o Fluminense campeão e o resto que se dane.

Nos momentos que precediam o nosso embarque para o estádio, a tensão começava a rolar solta, o clima ia ficando com cara de decisão, percebia que cada um começava a por em prática seu arsenal de mandingas e superstições. Eu tinha levado a mesma roupa que usara na partida contra o Boca no Maracanã, que por sinal era a mesma roupa que usara no jogo de Buenos Aires. Tudo igualzinho! Só que tinha um problema, que era o tênis que usara, "estava em frangalhos". Então, levei-o num saco plástico para que pudesse trocá-lo antes de começar a partida. E todos me davam a maior força. Diziam aquela velha e clássica frase do futebol: "Em time que está ganhando, não se mexe"! E outra coisa que levei para o estádio foi o livro "PROFETA TRICOLOR", com crônicas de Nelson Rodrigues. Foi aí que o repórter Marcelo Pizzi, da TV GLOBO, perguntou-me se era sério mesmo que levaria o livro para o estádio. E aí lhe respondi: "- E você acha que eu deixaria o meu amigo Nelson Rodrigues fora dessa"???

O repórter Marcelo Pizzi nos acompanhava desde o Rio de Janeiro, com o objetivo de fazer uma "matéria especial" para o programa Esporte Espetacular" que vai ao ar nos domingos pela manhã. Alguns momentos depois de minha resposta, Marcelo perguntou-me: "- Você poderia ler para nossa matéria, algumas frases do Nelson lá no estádio". E lhe disse: "É claro"!

O primeiro tempo do jogo, foi algo que, é para se esquecer... Até que, quando o Conca empatou o jogo (que golaço!) pulamos e cantamos feitos uns loucos e acreditávamos na vitória, mesmo sentindo os efeitos da altitude que nos impedia de cantar no nosso ritmo normal, que era sempre frenético. Éramos 1.000 tricolores confiantes num resultado positivo, que nos desse tranquilidade para decidirmos tudo no Rio. Mas, nos últimos 17 minutos do primeiro tempo, o Fluminense sofreu um "apagão" e levou 3 gols, terminando a primeira etapa perdendo por 4 a 1. Estávamos em choque! Pensávamos: "Viajamos esse tempo todo, do Rio até aqui, e podemos perder o título já neste jogo". Durante o intervalo, percebi várias pessoas chorando, revoltadíssimas com a goleada parcial. Também fiquei completamente desorientado, não sabia o que fazer. Aí resolvi agir e comecei a fazer discursos, dizendo para o pessoal ter calma, pois o nosso time era muito bom e iríamos diminuir a diferença e levaríamos a decisão para o Rio, em condições de revertermos. Ainda no intervalo, li as tais frase que o Marcelo havia me pedido.

Com o gol de Thiago Neves, aos 8 minutos do segundo tempo, diminuímos o nosso prejuízo para 4 a 2, e fomos ao delírio mais uma vez. recobrávamos nossa confiança. Com a milagrosa defesa de Fernando Henrique, no final da partida, gritei na hora: "- É a defesa do título! Foi o Sobrenatural de Almeida"! E começava a levantar o livro "Profeta Tricolor" como quem agradecia uma benção recebida.

No dia seguinte da partida, Marcelo Pizzi me acorda por volta das 09:00 hs, dizendo: "- Preciso fazer uma matéria no Estádio Casa Blanca (estádio da LDU) e gostaria que você fosse comigo. Acho que você simboliza bem, o espírito do tricolor fanático". Me senti lisonjeado e respondi: "- Sem problema algum. Eu vim aqui pra trabalhar. Se for pra ajudar o Fluminense, eu faço qualquer coisa"!

Antes de irmos ao estádio, fomos no CT (Centro de Treinamento) da LDU. Para a garotada da internet, que fica falando de Internacional e São Paulo, deveriam conhecer as instalações da LDU. Só pra se ter uma idéia... São 16 campos de futebol. Fomos muito bem recebidos no CT, mesmo eu vestindo uma camisa retrô do goleiro Castilho. Chegamos a conversar um pouco com o técnico argentino da LDU, Edgardo Bauza e o goleiro Cevallos. Os dois foram super educados e atenciosos conosco. Eu cheguei a brincar com os dois e dizia a eles que no Rio a história seria diferente.

Com a permissão concedida para entrarmos no gramado do Estádio Casa Blanca, fomos em direção ao local. No dia anterior, o dia do jogo, não pude perceber direito no estádio, devido ao clima de tensão, a multidão equatoriana. Mas, no dia seguinte, mais tranquilo, pudemos ver um pouco melhor os formatos e o tamanho do estádio. No gramado, marcelo pediu-me que andasse pausadamente, olhando em direção das arquibancadas. Depois pediu-me que prendesse a bandeira tricolor no rede do gol (era pra impedir a logo do cartão de crédito VISA) e que eu me ajoelhasse no local em que Fernando Henrique fez a "milagrosa defesa" e que fingisse que lia o livro de Nelson Rodrigues e de repente, olhasse para o travessão (no lance da "defesa milagrosa" a bola chega a tocar no travessão).

A matéria foi ao ar no domingo, sem nenhuma cena que foi gravada no CT da LDU. Creio que, por terem sido mais engraçadas, já que tiveram diálogos amistosos entre eu, Cevallos e Edgardo Bauza. Acho que o Marcelo, devido a situação delicada do Fluminense, resolveu optar por um tom mais dramático na matéria para poder mobilizar a torcida tricolor para o próximo jogo.

Sobre o jogo no Maracanã, não gosto muito de lembrar... Mas, a festa da torcida com toda certeza, como disseram muitos jornalistas, "foi a festa mais linda de todos os tempos, em todo o mundo, num estádio de futebol". Foi simplesmente, uma coisa de louco, de arrepiar! A cada gol de Thiago Neves, se aproximavam cada vez mais pessoas para beijarem meu livro o "PROFETA TRICOLOR", que tinha levado para o Maracanã. O resultado da partida vocês já sabem...

No dia seguinte, o dia 3 de julho, resolvi levar meu primo Lucas Xavier ao Fluminense. Queria tirá-lo da "Escolinha de Vôlei do Bernard", na Tijuca, para colocá-lo na escolinha de vôlei do Fluminense. Comprei dois uniformes completos, bola, matrícula, ou seja, tudo que tinha direito. Lá pelas tantas, estávamos na Fluboutique conversando com os amigos e apareceu uma repórter do jornal "O DIA" que nos fez algumas perguntas e depois tirou uma foto nossa beijando uma bandeira do Fluminense.

E o texto no jornal "O DIA", de 4 de julho, era o seguinte: "Os primos Eduardo Coelho e Lucas Xavier estão orgulhosos. Eduardo passou frio em Buenos Aires, dor de cabeça em Quito e chorou (não chorei no Maracanã,apesar dela ter escrito) no Maracanã. "Tudo foi válido. Vamos voltar a Libertadores mais rápido do que pensam", afirmou. Lucas, 12 anos, não foi à escola ontem. Quis evitar os amigos rubro-negros. "Estou triste, mas orgulhoso da campanha. Não era tão tricolor como agora".

Saudações Tricolores


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