O Blog “CIDADÃO FLUMINENSE” apresenta aos seus leitores mais uma parte da entrevista do contador Milton Borges (ex-Tesoureiro do grupo FLUSÓCIO) para o jornal “OLHO VIVO”. Abaixo a matéria na íntegra:
Parte I – Introdução
Entrei de fato para a política do Fluminense em 2006, após ter participado de uma reunião organizada pelo grupo político Flusócio no Flexcenter, onde o atual presidente Peter Siemsen na época conselheiro fez uma exposição sobre a caótica situação financeira do clube.
Lembro que o Peter dizia nos seus almoços no Jockey Clube brincava com seus amigos tricolores dizendo que não entendia como eles conseguiam ficar discutindo futebol com o clube na atual situação em que estava mergulhado em dívidas, e olha que em 2006 a dívida reconhecida no balanço era de R$ 156 milhões, e hoje caminha a passos largos para meio bilhão de reais.
Após estar afastado por da política por mais de um ano, fui procurado pelo conselheiro Rogério Doval, que me pediu para fazer uma análise da prestação de contas do primeiro ano da gestão Peter Siemsen, e para minha surpresa e decepção, percebi que não havia qualquer melhora na situação financeira do clube, pelo contrário, o orçamento do clube além de ter sido elaborado com previsão de déficit, da mesma forma que no exercício anterior (último ano da gestão Horcades) excedeu a dotação orçamentária.
Eu sei que é um assunto chato, que poucos tem paciência para entender as diferenças entre “orçamento” e “fluxo de caixa”, entre “regime de competência” e “regime de caixa”, que quase ninguém tem saco para estudar aquelas dezenas de páginas com milhares de números que compõe o orçamento e o balanço, que ninguém tem saco para aturar as explanações do gestor financeiro do clube, mas é disso que se aproveitaram os fracos gestores que passaram pelo nosso clube nos últimos anos, para aprovarem suas contas com déficits sem a necessidade de pedido de suplementação orçamentária .
Acreditem o orçamento do Flu para 2011 foi elaborado com déficit nas despesas e receitas, deixando fora da previsão orçamentária a dívida que vencia em 2011, no montante de R$ 173,1 milhões.
O inciso XX do artigo 40 do Estatuto do Fluminense, prevê o seguinte:
Compete ao Conselho Diretor organizar por Departamento, o Orçamento anual, analítico e sintético, com estimativas de Receitas e Despesas.
Precisamos acrescentar neste item, um parágrafo que determine ao Conselho Diretor, não apenas fazer uma estimativa das Receitas e Despesas, mas também fazer uma estimativa das Entradas e Saídas previstas para o exercício.
O que precisa ficar claro para os conselheiros é que receita não significa necessariamente entrada de dinheiro em caixa, sendo que nesse caso do Fluminense específico grande parte das destas Receitas previstas no orçamento já entrou em exercícios de anos anteriores através de antecipações realizadas junto às emissoras de TV.
Por outro lado, nem tudo que o clube está obrigado a pagar neste exercício está enquadrado no conceito de Despesas previstas no estatuto, muito pelo contrário são Despesas que foram geradas em exercícios anteriores, que não foram pagas e que hoje fazem parte do nosso passivo de curto prazo.
Parte II – Orçamento de 2011
A gestão Peter Siemsen recebeu como herança da gestão Horcades uma dívida de R$ 382 milhões, sendo que deste montante R$ 173 milhões estariam vencendo em 2011.
Destes R$ 173 milhões de passivo circulante, o que mais preocupava era a dívida trabalhista no montante de R$ 70,3 milhões.
Diante deste quadro caótico, a gestão Peter elaborou um orçamento para 2011com uma estimativa de Receitas de R$ 79,2 milhões, ou seja, com uma previsão de déficit de R4 17,9 milhões.
Esclarecendo mais uma vez aos amigos que neste montante de despesas previstas para 2011, não estavam inclusos os R$ 173 milhões de dívidas (despesas geradas em outros exercícios) que estariam vencendo em 2011, dentre elas a dívida trabalhista de R$ 70,3 milhões. Esses R$ 97,2 milhões correspondiam a novas despesas que seriam geradas no exercício de 2011.
Desta forma se projetássemos na época um fluxo de caixa para 2011, teríamos a seguinte situação (em milhares de reais):
Saldo Inicial de Caixa e Bancos – 2.840 (+) Entradas Previstas
Contas a receber ................................ 1.623
Receitas orçadas para 2011 .............. 79.353
Receitas antecipadas ......................... (7.216)
(=) Total das entradas ........................... 73.660
(-) Saídas previstas
Dívidas vencíveis em 2011 ................... 165.919
Despesas orçadas para 2011 .................. 97.241
Total das saídas .................................... 263.160
(=) Dívida de curto prazo projetada para 31/12/11 ... (186.660)
Ou seja, havia uma previsão de aumento da dívida de curto prazo ao final do exercício de R$ 20,7 milhões (R$ 186,6 – R$ 165,9), já que as entradas de caixa previstas de R$ 73,6 milhões estavam totalmente comprometidas, com as dívidas vencíveis em 2011, basicamente com o passivo trabalhista no montante de R$ 70,3 milhões. Não havia previsão de entrada de novos recursos para o pagamento das demais dívidas que venceriam em 2011, bem como para o pagamento das novas despesas que seriam g eradas.
Na prática o conselho deliberativo do clube ao aprovar o orçamento de 2011, estava autorizando o presidente do clube a aumentar a nossa dívida, da mesma forma que ocorreu nas gestões anteriores, prática esta que deu origem ao crescimento desordenado desta dívida.
Entendo que precisamos repensar esta forma de elaborar os orçamentos.
Precisamos destinar no mínimo 10% das novas receitas para a dedução do passivo. Não podemos admitir que sejam enviadas novas propostas de orçamento ao conselho deliberativo do clube, onde as despesas sejam superiores as receitas previstas para o exercício.
Parte III – Dívida Trabalhista
Conforme comentamos no tópico anterior, o desafio da nova gestão em seu primeiro ano de mandato seria buscar recursos para honra os compromissos assumidos pela gestão anterior e para custear as despesas correntes que permaneciam muito elevadas.
O Clube não tinha muitas saídas, precisava com urgência gerar novas receitas, cortar custos e renegociar dívidas com credores.
Dentre as alternativas existentes a que foi mais bem sucedida do ponto de vista financeiro, foi a última com a retomada do ato trabalhista, que postergou o pagamento de uma dívida de R$ 82,1 milhões, sendo R$ 70,3 de curto prazo (exigível em 2012) e R$ 11,8 de longo prazo, para quitação através de depósitos mensais equivalentes a 15% da receita mensal, com a garantia mínima de R$ 900 mil mensais, correspondentes a R$ 10,8 milhões anuais.
Como o novo ato trabalhista somente foi assinado em 29/11/11, o clube esteve sujeito durante a maior parte do ano a cumprir os acordos trabalhistas pactuados pela gestão anterior, o que acabou não se concretizando.
De acordo com o fluxo de caixa e com a nota explicativa nº 16 do Balanço publicado, dos R$ 70,3 milhões devidos em 2011, apenas R$ 15,5 milhões foram pagos, tendo sido constituída ao final do exercício uma provisão para contingências no montante de R$ 32,2 milhões, que não consta da DRE (demonstração do resultado do exercício). O valor da provisão para contingências que aparece na DRE é de apenas R$ 9,1 milhões.
Apesar de não ter sido esclarecido na publicação, deveria por se tratar de fato relevante que aumenta a dívida do clube em mais de R$ 30 milhões, acredito que esta provisão para contingências tenha relação com o fato de ter sido postergado por nove anos o pagamento do passivo trabalhista, e desta forma alguns acordos podem ter retornado ao seu valor original devido sem desconto.
O agravante maior é que esta despesa de R$ 32,2 milhões não foi autorizada pelo conselho deliberativo do clube, já que as provisões para contingências não são incluídas no orçamento. Caso estas contingências de fato ocorram em determinado exercício, deve ser feita a reversão da provisão, na mesma linha do orçamento onde é lançada a provisão, e acrescentar o mesmo valor em despesa financeira ou despesa com pessoal, submetendo, portanto, à aprovação do conselho um pedido de autorização de dotação orçamentária suplementar.
Portanto, a dívida trabalhista total subiu de R$ 82,1 milhões em 31/12/10 para R$ 98,8 milhões em 31/12/11, conforma demonstrado a seguir (em milhares de reais):
Dívida Trabalhista em 31/12/10 ............... 82.163
(-) Pagamentos efetuados em 2011 .......... 15.538
(+) Provisão para Contingências .............. 32.266
Dívida Trabalhista em 31/12/11 ........... 98.891
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Caro Eduardo,
ResponderExcluirCreio que o titulo correto da materia deveria ser: "ABRAM OS OLHOS SÒCIOS DO FLUMINENSE". O sr Peter não está nem ai com o que possa ocorrer. Depois de 03 anos, não reeleito se Deus quiser, ele pega o seu boné e volta a velejar no Iate Clube. Se é que tenha deixado.
Saudações Tricolores.
Obrigado Milton Borges, pelo trabalho técnico e esclarecedor.
ResponderExcluirObrigado Edu Coelho, por postar material de tamanha qualidade no Blog.
Não tenho certeza de ter conhecido pessoalemte o senhor Milton Borges. Ele tem sido a unica voz a gritar aos quatro cantos o desencanto pela forma com que nossas finanças são tratadas. Sem duvidas que o erro vem de anos, e não seria agora, que um grupo de aventureiros iria como pensava, dar jeito num problema que nem conseguiram equacionar.
ResponderExcluirQuero ver agora, o "mago" das fianaças, trabalhar sem dinheiro.
"Rir com dente é fácil, quero ver e rir banquela"
Parabens senhor Milton Borges, esteja certo de que sou mais um dos seus fãs.
Saudações Tricolores
Luiz Antonio Barbosa de Castro