domingo, 19 de setembro de 2010

VIDA - Um manifesto alvinegro (mas, pode ser tricolor também)

Já li vários textos do jornalista Arnaldo Bloch que gostei e tive vontade de comentar ou de escrever no Blog “CIDADÃO FLUMINENSE”. Mas, sei lá, por qual motivo, sempre acabava deixando pra lá. Talvez, quem sabe, por preguiça ou esquecimento. Mas, neste sábado, dia 18 de setembro, percebi ao ler seu artigo no Segundo Caderno, do jornal “O Globo”, que já estava mais do que na hora.

Identifiquei-me com o texto de Arnaldo Bloch, que sempre escreve no Segundo Caderno. Como o Segundo Caderno é uma parte do jornal “O Globo”, dedicada ao setor cultural, é interessante que Arnaldo Bloch, quase sempre que pode, escreve sobre “o seu Botafogo”. Como não vejo problema algum em alguém escrever sobre “o seu clube do coração”, mesmo que não seja “o meu Fluminense”, fico satisfeito sempre quando ele escreve algo sobre “o seu Botafogo”. O texto de Arnaldo Bloch intitula-se “VIDA – Um manifesto alvinegro”.

Portanto, resolvi trazer aqui neste Blog, o texto do Arnaldo Bloch, pois acredito que pode ser útil e também muito importante para algumas de nossas reflexões. Para aqueles que possam se parecer, com os quais Arnaldo Bloch critica de forma muito inteligente, antes de qualquer coisa, só peço que façam uma pequena tradução. E onde se lê Botafogo, leia-se Fluminense. E onde se lê preto e branco, leia-se verde, vermelho e branco. E onde se lê estrela, leia-se pó-de-arroz. E onde se lê botafoguense, leia-se tricolor. E onde se lê Glorioso, leia-se Máquina. E onde se lê João Saldanha, leia-se Nelson Rodrigues. Eis o belo texto do Arnaldo Bloch:



Torcedores do Botafogo que se acham “verdadeiros” quiseram roer meu fígado por causa das idéias que expus no “Redação SporTV” da última segunda-feira. Faço parte daquela turma de não especialistas que os programadores convidam para dar um olhar informal (ou desinformado, conforme o caso) sobre o mundo das bolas. Acusaram-me de “não ser torcedor”. Disseram que “não precisam de mim”. E, como não podia deixar de ser, coroaram a argumentação me chamando de filho da puta. A ira destes meus irmãos levou-me a sistematizar o que dissera na TV no pequeno manifesto que segue abaixo, com jeitão de autoajuda, apesar de meus esforços em contrário. Tenho certeza de que encontrarei mais compreensão que ódio, uma vez que a torcida do Botafogo é composta, em sua maioria, por quem sabe enxergar a vida além do preto e branco.

SER BOTAFOGO – Não sou Botafogo “para vencer”. Gosto de vencer. Prefiro a vitória à derrota. Mas sou Botafogo porque sou Botafogo. Pela estrela, pelo preto e branco misturado ao colorido da multidão, às estampas das moças, ao cabelo da ruiva, ao azul, ao Brasil.

ATÉ O FIM – Se o Botafogo for campeão, fico feliz da vida. Mas não ambiciono ver o Botafogo sagrar-se pentacampeão brasileiro antes de eu morrer. Isso é pouquíssimo provável. Por ora, fico feliz se formos à Libertadores. Mas se o Botafogo deixar de existir, amarei sua flâmula e sonharei com seus símbolos até a última noite.

PERDER É VIVER – Vencer não é sinônimo de vida. Perder não é sinônimo de morte. Perder também é vida. Vencer pode ser a morte quando, incapaz de lidar com as próprias derrotas, o torcedor procura a redenção na guerra.

O MAL DO ZUMBI – Perde-se mais do que se ganha na vida. Quem só vive na perspectiva da vitória pensa que a derrota é a morte, chega em casa puto com a mulher, arrebenta com o amor. Esse cara vai viver morto a maior parte da vida.

O JOGO DO GOZO – Já o sujeito que prefere pensar que a vida tende a ser uma sequência de reveses (ou seja, é difícil pra cacete, leva-se muita canelada, principalmente quando se é de paz), aí, quando vem a vitória, esse cara vai saber vencer sem altivez e gozar melhor dos ápices da vida. Em outras palavras, pra gozar gostoso tem que gamar, gramar, amargar uma seca e saber esperar. A arte do créu-quieto.

PORRADA – Esclarecendo, só de passagem: isso não vale só para o Botafogo, mas para a maioria dos times e, portanto, a maioria dos torcedores em conjunto. Transitoriamente, no plano da História, este ou aquele time, nesta ou naquela cidade, terão uma “hegemonia” de títulos, de conquistas, de torcida. Para o torcedor deste time, a derrota em campo tende a equivaler a uma derrota pessoal. O time passa a ter uma dívida com o indivíduo. Não no sentido moral, de melhorar para retribuir o apoio, mas no sentido emocional, de recuperar sua autoestima perdida. Perder, então, passa a ser uma questão pessoal entre o torcedor e o jogador, ou entre o torcedor e o torcedor, inclusive os do mesmo time. Num caso ou no outro, a porrada come.

OS ‘PITBOTAFOGUENSES’ – Num tempo esquizofrênico, em que a competição truculenta é estimulada nos mesmos ambientes onde novos paradigmas de boa conduta são cultivados, essa refração das expectativas pelas lentes do futebol acaba germinando também no seio de torcidas que habitualmente vivem mais de identidade, cores, História, tradições, cultura, laços geracionais, ancestralidades. Nascem, então, os “pitbotafoguenses”: sonham com a hegemonia e vêem num torcedor cauteloso um traidor.

ESPERMA FUTURISTA – Um cyber-pós-aborrecente obtuso, por exemplo, tentou desqualificar meu amor pelo Botafogo pelo fato de que ando assistindo aos jogos pela televisão e só fui uma vez ao Engenhão. Ele devia estar brincando de pazinha quando eu ia semana a semana a Caio Martins na campanha (vitoriosa) para voltar à primeira divisão. O moleque cheio de regra não era nem projeto futurista de esperma quando rolei as arquibancadas em 1989, naquela noite de meio de semana em que faturamos o primeiro título depois de 21 anos.

AO GLORIOSO, A GLÓRIA – Sou o torcedor que sou. Mal sei as escalações de cor e enciclopédia pra mim é a “Britannica”. Nos anos 70, amei várias formações alvinegras que não ganharam título. Wendell era meu ídolo. Marinho Chagas, um semideus. Ouvi no radinho o João Saldanha soltar seus esgares ébrios quando Tuca e Puruca formaram o ataque. Faço parte de um povo que sabe o que é privação. A vida é assim. E as glórias que são do Glorioso ninguém tira, bastantes, muitas, poucas, uma, ali no firmamento.

3 comentários:

  1. Prezado Eduardo Coelho,
    Concordo com você, o texto é excelente. Belo manifesto.
    ST,
    Jaime.

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  2. Sou alvinegro como o eminente autor deste texto e peço licença para parabenizar o prezado Eduardo Coelho, primeiro por dar valor a um excelente texto mesmo este sendo de uma equipe rival, e segundo e aproveitando o ensejo, pelo título merecidíssimo do Fluminense neste ano de 2010!!!

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  3. Prezado Fernando Corrêa,

    É uma grande honra ter o seu comentário no Blog "CIDADÃO FLUMINENSE". Mais ainda por você se declarar alvinegro. Na verdade é um motivo de orgulho receber o seu gentil comentário.

    Se por algum outro motivo, você observar outros textos do Blog "CIDADÃO FLUMINENSE", poderá observar que este Blog "jamais" trata os rivais do Fluminense de forma desrespeitosa ou depreciativa. Faz parte da linha editorial deste Blog. Apesar de ser um torcedor fanático de arquibancada, penso uma nova forma de relacionamento entre os grandes clubes do Rio de Janeiro.

    Se o Fluminense e os seus grandes e tradicionais rivais (Vasco, Botafogo e Flamengo) estiverem fortes, trabalharem em conjunto, todos ganham com isso. E o esporte do Rio de Janeiro e todos os seus torcedores também ganharão com isso.

    Ganharão melhores serviços e mais respeito como cidadãos. Ganharão melhores produtos, melhores espetáculos, melhores festas, melhores jogos. E consequentemente mais títulos.

    O fato de sermos adversários dentro de campo (e não inimigos), não nos impossibilita de estabelecermos relações fraternas. Mais uma vez gostaria de reiterar minha gratidão por seu gentil comentário.


    Um abraço fraterno,

    EDUARDO COELHO

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