Como era bom viver em 1976. Como era bom ser Fluminense em 1976. Como diria o imortal gênio tricolor Nelson Rodrigues: “Ai do clube que não cultiva santas nostalgias”. E bem que a taça de campeão poderia estar guardada nas Laranjeiras muito antes. Mas, não: a “máquina” do Dr. Horta havia falhado inexplicavelmente naquele dia 29 de agosto. O Fluminense vencia o Vasco por 2 a 0, gols de Gil e Erivelto, mas permitiu que o adversário reagisse e chegasse ao empate. O resultado obrigava a realização de uma nova partida.
Mas um novo jogo em que data? O campeonato brasileiro estava para começar e tanto o Fluminense como o Vasco já tinham jogos programados. O campeonato brasileiro começou sem que o campeão carioca de 76 fosse conhecido.
Passaram-se pouco mais de dois meses até 3 de outubro, dia finalmente escolhido para a grande decisão entre Fluminense e Vasco. Desta vez teríamos o campeão. Em caso de empate, prorrogação e pênaltis. O Fluminense reanimado só pensava na vitória e no bicampeonato.
E a torcida tricolor voltou a se esquentar. No dia 2 de outubro, um sábado de sol véspera da grande decisão, os bairros da zona sul do Rio amanheceram em festa. As praias de Copacabana, Ipanema, Leblon, São Conrado e Barra estavam repletos de bandeiras tricolores. O barulho das buzinas dos carros era intenso e a cada esquina da cidade, batucadas ensaiavam nas ruas o carnaval da vitória. Os bares e butecos estavam lotados e em todas as rodinhas o assunto era um só: a grande decisão de amanhã.
No domingo, dia 3 de outubro, com o mesmo calor e sol do sábado, a torcida do Fluminense, antes das duas da tarde já ocupava seu lugar nas arquibancadas do Maracanã, à esquerda da tribuna de honra. Há muito tempo não se via a torcida tricolor tão fervilhante. Nesta tarde, o Maracanã era verde, vermelho e branco. A torcida do Vasco era claramente inferior no estádio.
A torcida tricolor eufórica saudava a entrada do Fluminense em campo. Renato puxa a fila, seguido de Rubens Galaxie, Carlos Alberto, Miguel, Rodrigues Neto, Pintinho, Paulo César, Gil, Doval, Rivelino e Dirceu. O uniforme era o tricolor. E uma enorme nuvem de pó-de-arroz como há muito não se via surge no Maracanã.
Com a bola rolando, desde os primeiros momentos o Fluminense trata de sufocar o Vasco impondo sua superioridade técnica. Abel e Renê arrepiam na defesa tentando intimidar Rivelino, Doval, Dirceu e Paulo César. Mas os tricolores não se acovardam. Estão endiabrados e envolvem a defesa vascaína, com tabelas perfeitas.
O Fluminense, porém, não consegue traduzir sua superioridade em gols. Termina o primeiro tempo em 0 a 0 e a tensão no Maracanã aumenta. Mas Carlos Alberto com grande atuação dá tranqüilidade à zaga e ao resto do time. Aos sete minutos, Dirceu recebe uma bola açucarada de Paulo César, mas desperdiça a excelente chance de marcar. Um pouco depois, Rubens Galaxie acerta uma pedrada no travessão de Mazzaropi e a torcida tricolor se levanta, mas o grito de gol não sai.
Termina o jogo e o empate obriga a realização da prorrogação. Os primeiros 15 minutos se esgotam e o placar continua em branco. Decidir nos pênaltis não seria justo pelo futebol tricolor. E o Vasco era mestre em ganhar títulos desse jeito.
Nos 15 minutos finais, a partida continua a mesma, o Fluminense abafa, sufoca e o Vasco se defende como pode. Faltando apenas quatro minutos para o final da partida, Paulo César tem um tiro indireto para cobrar pela esquerda. Bate alto e Pintinho desvia de cabeça para a área. Doval sobe mais que Abel e coloca a bola no canto direito de Mazzaropi, sem defesa para o goleiro.
É o gol do Bi! É o gol do título! É o gol que leva a torcida tricolor à loucura, ela que passou pelo menos 75 minutos gritando, incentivando sua equipe. E o Maracanã se transforma numa nuvem de pó-de-arroz.
“Horta, Horta, Horta!” Os gritos são uma homenagem ao presidente que transformou inteiramente o clube e montou uma “máquina” de jogar futebol. Horta entende o recado. Desce da tribuna de honra para o campo, unindo-se aos jogadores na comemoração. Carlos Alberto, o “capitão do tri” sem dúvida era o mais emocionado de todos. Mas não era o único. No vestiário, todos visivelmente esgotados e emocionados comemoravam intensamente o título.
Das 127.052 pessoas que assistiram à grande final, pelo menos 70 por cento eram torcedores tricolores. A torcida tricolor iniciaria o carnaval da vitória ainda no Maracanã. Depois, saiu num enorme desfile pelas ruas do Rio de Janeiro até a sede das Laranjeiras. Nas Laranjeiras, encontraram os portões do histórico estádio abertos e muito chope para comemorar o bicampeonato.
O sonho de Francisco Horta estava realizado. Sua “máquina” havia triturado todos os adversários. E o nome do presidente Horta entrava para a história do tricolor com o mesmo destaque de craques como Rivelino, Paulo César, Carlos Alberto, Pintinho ou Doval. E como era bom ser apenas um garoto de 11 anos em 1976. Viva a “Máquina”!
Saudações Tricolores
sábado, 3 de outubro de 2009
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ResponderExcluirEu tambem era apenas um garoto de 11 anos em 1976 (27 de novembro de 1964) e agradeco muito a memoria clara que reaviva aquele dia.
Mauro Balbino
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